A Importância de um ‘’Beta-Reader’’

escrevendo

Um professor de redação meu costumava dizer que escrever um texto é como tecer um tapete, para que fique bom no final é necessário que as cordas estejam bem pressas umas as outras. Ao tecer essas cordas muitas vezes ficamos tão concentrados em deixar algumas partes específicas perfeitas que deixamos passar alguns detalhes em outras

Aquele personagem que cativa o leitor e que só aparece no começo do livro. Aquela outra personagem cujas características principais são o ódio e a ruindade que de repente passa a ser doce e boa. Aquele cenário cinza e escuro que, muitas vezes, na mesma cena passa a ser um bosque cheio de flores. Aquele acontecimento novo que diverge dos fatos anteriormente contados. Aquela palavra completamente fora do contexto.

Parecem pequenos detalhes, mas para quem lê, são justamente coisas desse tipo que fazem a diferença na hora de classificar um livro como bom ou péssimo.

Para que saia tudo perfeito e ‘’bem amarrado’’, uma das etapas do processo de escrita de um livro é a leitura beta. Consiste basicamente em convidar uma pessoa que esteja por fora da história para que ela possa ver o que está solto e, até mesmo, criticar alguns detalhes e dar sugestões para deixar o livro ainda melhor.

A autora de ”A Infiltrada”, Natália Marques, posta alguns capítulos da continuação de seu livro em uma comunidade no orkut, para ela: ” A opinião dos outros, sincera, é muito importante. E também incentiva a continuar. Eu não tenho ninguém entre mim e a postagem do orkut, mas gosto muito de receber o retorno daqueles que leem que me indicam o que acham, me dão o termômetro da história e, muitas vezes, lembram a gente de detalhes que acabam escapando! Mas acho que esse beta-reader tem que ser alguém de muita confiança e muito sincero!”

Já que no caso da Natália, quem lê o livro antes de ser publicado são os próprios fãs, decidi perguntar também a autora Larissa Siriani o que ela acha de leitores beta:Eu acho que Beta Readers são fundamentais sim. Tecnicamente não tenho um, mas vários. Tenho um grupo de amigos que leu praticamente todos os meus livros antes de eles serem lançados. Ter um leitor crítico além de você significa uma chance a mais de corrigir errinhos que só outra pessoa pode perceber, significa uma opinião a mais pra considerar, outros olhos pra avaliarem o seu texto e te ajudarem a crescer enquanto você ainda tem tempo de errar – o “não” de um beta-reader com certeza terá menos peso pra você do que o “não” de uma editora. Pessoalmente, quanto mais pessoas puderem olhar os meus textos antes de eu enviá-los a algum lugar, melhor. Com várias opiniões em mente, consigo reler a história com outros olhos.”

Para falar mais um pouco do assunto ninguém melhor que Priscila Braga, dona do Bookaholic e leitora beta de vários autores nacionais para dar uma breve entrevistinha sobre o assunto, confiram!

1)      O que faz um ‘’beta-reader’’?

Um beta reader na verdade é alguém que lê um livro antes dele ser apresentado para um editora. As vezes é durante o processo de escrita e as vezes é logo em seguida ao termino do livro como parte o processo de revisão.  A pessoa tem que ter um olhar extremamente critico, já que ela vai procurar por erros de continuidade, repetições, errinhos de gramática e concordância, e avaliar de uma forma geral se o enredo é agradável, se a leitura é interessante para os leitores de uma forma geral.

2)      Qual a parte mais legal do trabalho? E a mais chata?

Não sei dizer se tem uma parte legal/chata… Eu gosto muito de participar e me envolver nesse processo. A única parte que as vezes fica um pouco cansativo é a necessidade de ler e reler várias vezes a mesma coisa, mas o resultado final costuma valer a pena! 

3)      É um trabalho que você faz para qualquer um ou é mais para os seus amigos?

Eu não faço isso como um trabalho “profissional” digamos assim… Acabo sendo beta apenas de alguns amigos mais próximos.  Mas é algo que eu adoro 😀

4)      Você recebe algum tipo de pagamento por esse trabalho?

Existem pessoas que fazem isso como uma atividade remunerada sim, mas eu sou apenas “palpiteira” pros meus amigos, então faço por prazer mesmo e para ajuda-los, não como um “trabalho”.

5)      Dá para ganhar dinheiro sendo ‘’beta-reader’’?

Sim, como qualquer outra atividade…  Existem pessoas que fazem leitura critica profissionalmente e ainda preparam o texto, revisam, melhoram, etc  etc…  Eu faço isso porque adoro fazer parte desse processo e porque sou uma leitora extremamente critica e acho bacana questionar o autor em certos aspectos de forma que ele possa melhorar o livro cada vez mais antes que ele chegue as prateleiras.

6)      O que é preciso ter para ser um ‘’beta-reader’’?

Acho que antes de mais nada ser um leitor voraz. Depois é preciso ter um excelente senso critico para muito mais que ler um livro como um entretenimento, avaliar personagens, cenários, ver se a trama está bem construída… E mais do que tudo, acho que você precisa ter “coragem” de apontar as falhas pois não adianta nada identifica-las e guardar só pra você. Quando se é beta, você não vai simplesmente avaliar um livro tipo “dei três estrelinhas e fim”; a sua função é contar para o autor o que falta para ele ser um “5 estrelas”.  O real motivo de você ler o livro antes, é justamente identificar e ajudar o autor com todos esses detalhes. Muitas vezes, a pessoa que escreve está tão dentro da coisa que não percebe certas “falhas” que são fundamentais para o desenrolar da história, e aí entra o beta, que o ajuda a melhorar ainda mais o texto.

 7) O trabalho é facilitado pelo fato de você ter um blog?

Sim e não. Eu leio muito e por isso tenho um blog para falar sobre minhas leituras. Através dele eu tenho um contato maior com autores e estou sempre exercitando o meu lado critico resenhando livros e me atualizando com o mundo literário, as tendências etc…  Mas não que ele interfira diretamente nessa coisa de ser “critico”, acho que isso é algo que vem de cada um, que você desenvolve com o tempo e aprende a usar de uma forma positiva. Para ser crítico, acho que a única forma é estudar bastante, se informar e principalmente ler, ler muito.  Ninguém consegue formar suas próprias opiniões se não conhecer o mundo ao seu redor, a história, os fatos, sem interagir com outras pessoas… É algo que vem da personalidade de cada um, e que logicamente se destaca mais em algumas pessoas e para essas, torna este exercício bem mais fácil… Pode parecer engraçado, mas são poucas pessoas que conseguem dizer o que elas gostam e o que desgostam. Infelizmente a grande maioria hoje em dia simplesmente assume as opiniões de outrem… É mais “fácil” e você não precisa argumentar para defender suas ideias… Você não assume riscos e não magoa ninguém. Eu acho isso lamentável porque de uma forma ou de outra, você está perdendo a chance de ser você mesmo, de mostrar para o mundo quem você é, o que pensa, etc.  

8)      De certa forma, você tem que criticar os livros e apontar os errinhos que os autores cometem. Você se sente a vontade para fazer isso ou fica aquele desconforto chato?

Como eu faço isso apenas para pessoas “próximas”, acho que elas já me conhecem rss Sabem que independentemente de qualquer coisa, eu serei sincera com aquilo que eu gostar mas também vou dizer quando não gostar de algo …  É complicado você julgar o trabalho de outra pessoa, mas como beta é necessário que você aponte pontos que podem ser melhorados pois se você não o fizer, quando o livro for lançado outras pessoas o farão…  Todo mundo que resenha um livro nos infinitos blogs literários que vemos por ai, de certa forma ta ali apontando os pontos positivos e negativos de uma obra, a diferença, é que o beta tem a chance de fazer isso antes dele ser impresso, ou seja, orientar o autor para que o menor numero de falhas cheguem no produto final, o livro finalizado.

9) Em sua opinião, qual a fórmula para escrever um bom livro?

Eu não acredito muito em “formula”, mas eu acho que comprometimento e dedicação são os itens primordiais para se ter sucesso em seja lá o que você faça na vida. Um livro bem escrito com certeza é resultado de muitas pesquisas, de leitura e releitura, de consultas à gramática, de referencias da própria vida do autor e também de tudo que acontece ao nosso redor.  Qualquer um pode ter uma grande ideia, mas a maneira como ele vai passar isso para o leitor  é o que vai fazer do livro dele “um bom livro”. 

Escrever é na verdade apenas a primeira parte do processo, depois vem todas as etapas de revisão e é aí que a coisa realmente começa a complicar, mas também o que garante um resultado satisfatório. Como tudo que ouvimos por aí é 10% inspiração e 90% transpiração, um livro não é diferente. Autores que “vomitam” um livro em poucas semanas pra mim não servem como referencia. Muito menos os que dizem que leem pouco porque estão sempre escrevendo e não “sobra tempo”. É impossível escrever bem se você não lê MUITO. Escrever é um processo de dedicação e muito, muito trabalho, se existe algo que podemos chamar de “formula” é exatamente isso.

Espero que tenha gostado do post e que ele tenha servido para esclarecer algumas dúvidas!

Beijoos, A Garota do Casaco Roxo

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