Jack Ryan é mais do mesmo

poster divulgação jack ryan
Apesar de eu ter achado totalmente dispensável, “Jack Ryan” ganhou uma segunda temporada. Será que eu terei paciência para assistir?

“Jack Ryan”, que estreou no final do mês na plataforma Amazon Prime, era a promessa de um novo seriado para sugar a minha vida e me deixar obcecada com uma narrativa de espionagem repleta de reviravoltas e de truques especiais

É verdade esse bilete.

Infelizmente, “Jack Ryan” foi uma grande decepção para mim.

Na série, acompanhamos um pouco da história de Jack Ryan, um doutor em economia e veterano de guerra que é especializado em rastrear transações financeiras suspeitas, que podem ajuda-lo a identificar potenciais novos terristas.

Jack é extremamente inteligente e ele  acredita ter encontrado “o novo Bin Laden”, coisa que é revelada em um diálogo absurdo, que apresenta personagens que nunca mais aparecerão na tela.

Para mostrar que Jack Ryan é inteligente, há uma cena que chega aos limites do caricato. Nela, Jack Ryan responde perguntas difíceis de Jeopardy! (um game show de perguntas e respostas que é super popular nos EUA), e é nisso que os roteiristas esperam que a gente apoie nosso argumento de que “oh, nossa, ele é inteligente”. Não há,  no resto dos episódios, um exemplo prático de que Ryan tem a mínima ideia do que está fazendo.

Ele não é um Robert Langdon, que chega a deixar o espectador desorientado com tantos fatos históricos que joga na tela. Passou longe, bem longe.

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Eu adoro o John Krasinski, mas ele não convence.

Eu não sei se é o ator que não convence, mas é difícil acreditar que Jack Ryan seja realmente o único que pode parar o tal terrorista.

Mas, voltando: O potencial terrorista, segundo Jack Ryan, é Suleiman (interpretado por Ali Suliman). Nascido no Líbano, ele foi criado na França e foi lá que se voltou ao extremismo.

Os atos de Suleiman “tentam” ser justificados por meio de flashbacks que apresentam a trajetória pessoal do terrorista. Mas não convence. É como se os próprios roteiristas não tivessem certeza de que guinadas ao terrorismo podem ter sido consequências da Guerra Fria e das disputas pelo petróleo nos anos 70 e 80, do preconceito, do racismo e da falta de oportunidades igualitárias.

Nenhuma reflexão acontece a partir da história pessoal de Suleiman e tudo desemboca novamente na questão da meritocracia e do “se ele queria, deveria ter trabalhado com mais afinco para conseguir”. Como se precisamos de mais uma série/filme que vende essa mesma ideia para gente…

Suleiman que, no começo, é um personagem que tem até certo carisma, torna-se o cúmulo do absurdo e eu não sei dizer se eu tive essa impressão porque 1- o terrorismo é um absurdo ou 2- o ator que faz Suleiman tinha mais carisma do que John Krasinski e isso precisava ser consertado de algums forma (como, por exemplo, fazer o personagem ter arroubos de violência não-justificada que não fazem sentido comparados com outras atitudes que ele teve no resto da série).

Uma das coisas que mais me impressionou foi a storyline de Hanin (interpretada brilhantemente por Dina Shihabi), esposa de Suleiman, e de suas filhas. Fiquei fisgada e acho que só terminei de ver a série porque queria saber o que aconteceria com elas.

De todos os jeitos, a narrativa, que parecia promissora e interessante, cai de novo naquele preguiçoso jogo de bem x mal. De EUA x terrorista doido.

Essa série, que poderia apresentar um ponto de vista diferente de todos os outros filmes e seriados produzidos sobre espionagem e terrorismo nos EUA depois de 2001, é só mais daquela mesma história maniqueísta de sempre.

Há uma tentativa de acrescentar profundidade, colocando o chefe de Jack Ryan como um homem negro e muçulmano. No entanto, o personagem parece sub-aproveitado, salvo uma única cena de diálogo entre James Greer (interpretado por Wendell Pierce) e um policial francês (para mim, um dos pontos altos da série).

Há também uma tentativa de acrescentar romance, com uma personagem que é uma doutora consagrada, Cathy Mueller (interpretada por Abbie Cornish) e não é nenhuma ninfeta. Interessada por esse gancho, me vi decepcionada ao ver que os atores não tinham química alguma. Se no começo ela própria sugere um relacionamento casual, no final há um diálogo absurdo e ridículo,  onde ela diz “mas tudo que aconteceu entre nós foi uma mentira???”. So much for character building.

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“Ih, rapaz, que será que aconteceu com ela?”

Eles poderiam ter aproveitado a personagem de tantas outras formas diferentes mas preferiram seguir, de novo, no caminho preguiçoso que é seguido por todos os outros filmes e séries de espionagem. (Ethan Hunt, I’m looking at you).

Uma storyline secundária é apresentada e, apesar de eu ter gostado dela mais do que da de Ryan, estou ainda tentando entender porque gastar tanto tempo de tela e energia em algo que, em tese, é secundário (porque não fazer uma série só daquele personagem, por exemplo?).

Bem produzida, com cenas gravadas em diferentes países, com direito a muitos tiros, explosões e efeitos visuais, o potencial de Jack Ryan é jogado na descarga com um roteiro fraco, diálogos cheios de clichés e um argumento que não convence nem os próprios roteiristas.

É diferente de “Au Service de la France”, por exemplo, que tem diálogos afiadíssimos e cuja primeira temporada foi quase toda gravada em um único set. A segunda temporada, que já está disponível na Netflix, segue a mesma fórmula, mas com um orçamento um pouco mais parrudo. Chega a ser engraçado ver a forma como os personagens discutem a mudança de ambiente sabendo que ela foi causada por um upgrade na grana.

Acho que ter em mente um conparativo desses foi o que deixou ainda mais difícil para mim gostar de Jack Ryan.

Estou pensando seriamente em ler Tom Clancy para ver até que ponto é adaptação do livro e “liberdade criativa” de roteiristas de TV.

Trailer de Jack Ryan:

Sobre o Amazon Prime:

A primeira semana de uso do Amazon Prime é grátis e foi assim que vi Jack Ryan. Depois disso, os primeiros seis meses custam R$ 6,90.

Eu dei uma fuçada no catálogo, mas não estou convencida a largar a Netflix pelo Amazon Prime. Salvo 3 ou 4 filmes lançados neste ano, a plataforma não traz nada de novo ou diferenciado (nem mesmo com conteúdo original).

A experiência do usuário é bastante precária, com um tal de “X-ray” que passa detalhes dos bastidores dos episódios no canto da tela, o que torna o tempo de carregamento dos vídeos absurdo e bastante distrativo do conteúdo em si.

O aplicativo para iPad não funciona muito bem e toda vez que você o abre tem que configurar o idioma em que quer ver o seriado de novo. Em certos momentos, tive dificuldades até em navegar pelo próprio catálogo, com categorias recarregando ou mudando de lugar toda vez que eu iria mexer nelas.

Visualmente, o aplicativo  é carregado e pesado. Enquanto a Netflix padroniza as capas dos filmes para trazer mais harmonia, o Prime usa os próprios pôsteres de cinema para exibir os filmes e o resultado é bastante desagradável e feio.

Assim como minha experiência com Jack Ryan, o Amazon Prime também não é tão bom e não vai ser agora que eu vou migrar.

Beijoos, A Garota do Casaco Roxo

Duas séries legais (e uma para passar longe) do Netflix

Eu podia começar esse post pedindo desculpas, as usual. Mas, eu entreguei meu TCC e sou um elfo livre (até a banca oficial de aprovação), eu não preciso de desculpas, eu tenho um diploma (que não serve para muita coisa, mas é um diploma, non?). 

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Dito isso, eu tive poucos dias para realmente descansar e ler. O feriado foi gasto todo nos toques finais do relatório e agora estou com a cabeça tão cansada que nem vontade de ler sinto. Eu aguento fadiga e cansaço físico, mas não aguento cansaço mental. Não consigo ler nadica de nada e até para fazer a lição de casa do francês estou enrolando. 

E é em momentos como esse que eu recorro ao nosso querido e amado Netflix! Como disse antes, o cansaço mental me impede de realizar raciocínios simples como “2+2=4” e os documentários que costumo ver estavam fora de questão (até porque, produzimos um documentário de tcc e eu estou meio que enjoada da palavra “documentário”). Por isso, recorri a aquelas séries curtinhas, de 20 minutos e 12 episódios para poder relaxar.

Chewing Gum

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Tracey é uma menina que trabalha como caixa de uma loja de conveniência e mora num conjunto habitacional chamado Hamlet Towers. Ela tem um namorado de cinco anos chamado Ronald – que ela nunca nem sequer beijou – e uma mãe e uma irmã que são ultrareligiosas e que acham que tudo é pecado. 

Tudo o que Tracey quer é perder sua virgindade e vai conseguir isso com a ajuda de sua amiga Candice, da avó e do namorado dela e de seus vizinhos de Hamlet Tower. Será que Tracey consegue realizar seu sonho ou vai sempre viver carregada de culpa?

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Cinthia, sua irmã, e Joy, sua mãe, não gostam nada quando um garoto, morador do prédio que se considera um “poeta”, passa a se aproximar de Tracey.

Chewing Gum só tem 6 episódios e isso foi mais do que o suficiente para que eu ficasse encantada com a Tracey e com sua obsessão pela Beyonce! Já quero ser amiga dela na vida real! Eu super estou doida para ver a segunda temporada!

Os episódios são engraçados e a sensação é que Hamlet Towers poderia ser facilmente meu prédio ou até a rua onde cresci. Os personagens são diversificados e bem construídos e é impossível não morrer de rir quando você vê as situações em que Tracey se enfia.
Em alguns momentos, as imagens são um pouco explícitas e eu acho que, se forçassem mais um pouquinho, o seriado poderia cair facilmente na vulgaridade total. Não é o tipo de programa que dá para assistir em família ou com sua mãe por perto, etc. 

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Michaela Coel, a atriz que interpreta Tracey, cresceu em um conjunto habitacional chamado Hamlet Towers e também tinha uma mãe e uma irmã ultrareligiosas. Ela se formou em Inglês, em uma Universidade e escreveu a peça de teatro “Chewing Gum Dreams”, que deu origem à série original do Netflix. Acho que dá para dizer que a série foi, em partes, baseada na vida de Michaela, já que ela também assina o roteiro. Não é massa?

Au Service de la France

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Meu último post do blog foi uma dica para aqueles que estavam estudando francês e “Au Service de la France” também é uma! A série foi produzida em 2015 pelo canal francês Arte!, os episódios têm, no máximo, 25 minutinhos, e eles falam devagarzinho. É ótimo para quem quer afiar o ouvido.

“Au Service de la France” é uma série ambientada em Paris, nos anos 60. Ela segue a história do jovem André Merlaux, très beau (gato mesmo, no bom e velho português) e inteligente. Merlaux é selecionado para trabalhar no serviço secreto francês, mas antes de se tornar oficialmente um espião, ele deve passar por uma série de treinamentos e missões de reconhecimento.

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Com a ajuda dos agentes e típicos funcionários públicos Moïse, Jacquard, Calot e Moulinier, ele vai participar de uma série de mini missões e desafios, até se tornar um oficial do serviço francês.

Merlaux ainda vai passar por problemas amorosos com a jovem Sophie, problemas tensos com o chefão de todos, Le Colonel, e até problemas peculiares com a agente independente e forte Clayborne.

A princípio, não levei muito a sério “Au Service de la France” porque achei que tinha piadas canastronas, bem ao estilo de Zorra Total, em excesso. Com o tempo, fui entendendo que eles tinham uma pegada de humor mais britânico e a série foi evoluindo de uma forma que me deixou envolvida e me fez entender algumas das escolhas dos escritores.

O passado de Merlaux e dos outros personagens é revelado aos poucos e você passa a levar a sério o seriado. O último episódio é cheio de tensão (até porque você já está extra envolvida na narrativa, etc) e termina com uma reviravolta de deixar você chocado e recarregando o Netflix para ver se tem uma nova temporada disponível. 

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Pelo que eu entendi dos sites que li em francês (pardon les erreurs), uma segunda temporada está prevista para 2017. Eu, honestamente, duvido que consiga ficar tanto tempo longe do rostinho bonitinho de Hugo Becker, que faz o André Merlaux (en vraie, ele nem é tão bonito, mas conforme a série foi passando, tinha horas que eu achava ele lindo, horas que não, horas que lindo, horas não e aí eu acabei apaixonada por ele. É um caso a ser analisado com atenção pela Galãs Feios). 

Passe longe de Haters Back Off

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Eu juro, juro, juro que tento não ter birra com Youtubers, no geral, mas não tá dando. Tem um ou dois que eu até gosto, mas mais do que isso eu já torço o nariz. Eu nem sabia que Haters Back Off era um trabalho saído do Youtube, mas fui pesquisar o porquê do flop e essa foi uma das razões apontadas.

Em “Haters Back Off” acompanhamos a jornada de Miranda, uma garota em idade escolar que não tem talento algum, mas que quer ser famosa a todo e qualquer custo. Com o apoio de seu Tio Jim, Miranda coloca no Youtube um vídeo em que ela canta “Defying Gravity” – uma música que eu já não curto, ainda mais cantada fora de tom – e acaba torcendo para que o vídeo viralize. O “sucesso” chega quando um garoto que gosta dela passa a atualizar os vídeos várias vezes, para conseguir mais e mais visualizações. Isso sobe a cabeça de Miranda, que passa a acreditar que todas as críticas a ela são de “haters”.

Tinha potencial. Juro que tinha. Mas não consegui passar do quarto episódio. 

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Miranda acaba parecendo uma personagem extremamente egoísta e mimada, não tem nada nela que faça com que você simpatize e torça por seu sucesso. A garota está em idade escolar, mas a atriz que a interpreta, Colleen Ballinger, parece mais velha até do que a mãe da personagem, mesmo com as tentativas de usar roupas infantis. Além disso, ela tem uma voz tão nasalada que chega a ser desagradável de ouvir. O ator que interpreta o Tio Jim é muito forçado e faz tudo com exagero, talvez ele seria uma boa adição ao elenco da Escolinha do Professor Raimundo. Por fim, a mãe de Miranda inventa doenças fictícias e é capaz de desistir de tudo, só para manter Miranda feliz. O único mérito do seriado é a personagem Emily, irmã de Miranda, que é a única personagem normal da família. Talvez, se o seriado tivesse ela como destaque, ele não fosse tão ruim.

Li que o seriado foi uma criação de Collen Ballinger e que Miranda é uma personagem criada por ela para o Youtube. Não cheguei a ver os vídeos dela no canal, mas li reviews que diziam que “A Miranda é tolerável por 5 minutos, no Youtube mesmo, mais do que isso ela passa a ser irritante” e comentários como “esse seriado é horrível, vou até parar de seguir o canal dela do youtube”. As reviews positivas indicam que, lá para o final da temporada há uma mudança positiva e que, quem não gostou do seriado, não entendeu nada do personagem. Olha, honestamente, eu não vou ver mais e acho que nem quero entender esse personagem. 

haters

Parece que essa foi uma mudança de plataforma que não funcionou direito. Se é para apontar um mérito é que dá super para perceber que a Collen Ballinger tem um baita treinamento vocal e que, mesmo desafinando, dá para ver que ela só faz isso pelo personagem. 

Não recomendo Haters Back Off, mas Chewing Gum e Au Service de la France são meus dois novos amorzinhos. Estamos aí para conversar com qualquer um que esteja obcecado pela barba de Hugo Becker ou pela admiração de Tracey por Jay-Z e Beyonce.

Beeijos, A Garota do Casaco Roxo