Eu avisei que estava vendo documentários como se estivesse bebendo coca-cola, não avisei?
Pois bem, reuni os melhores dos melhores que vi, na minha nova lista de documentários para assistir no Netflix (ou em qualquer outro lugar, não é?). Eu já tenho uma outra lista aqui no blog, com 5 documentários legais para ver no Netflix.
Paris is Burning
Eu vi “Paris is Burning” porque apareceu na minha lista de sugestões, logo que terminei de ver todas as temporadas disponíveis de Ru Paul´s Drag Race.
“Paris is Burning” nos dá um olhar direto à cena LGBT do Harlem, nos anos 80. O filme estreou em 1991, mas levou cerca de 9 anos para ficar pronto.
Passando pelos bailes organizados pelas boates, pelos passos de voguing, pelas drag queens, até entrevistas gravadas na rua com os personagens, o documentário abre um mundo e uma cultura relativamente desconhecidos por mim. Se você achava que tudo começou com RPDR, como eu achava, sabe de nada, inocente! Prepare-se para uma lição de história! Acho que só aprendi o que é Shade mesmo com este documentário.
Não importa se você é hétero, gay, ou qualquer outra coisa, “Paris is Burning” é uma análise cultural muito interessante.
Durante parte do filme, nós seguimos Venus Xtravaganza, que estava passando pelo processo de reatribuição do gênero. Em entrevistas gravadas na rua ou em seu quarto, conhecemos um pouco da vida de Venus, ouvimos ela contar sobre como sofreu transfobia em diversas ocasiões e sobre seus sonhos e anseios. Ao final do filme, descobrimos que Venus Xtravaganza foi assassinada de maneira brutal. Seu assassino nunca foi capturado.
Ainda que o filme não seja sobre Venus em si, ele fala com profundidade sobre os preconceitos que gays, drag queens, travestis e transexuais sofrem. De um pai que jogou fora todos os vestidos de drag do filho até o assassinato de Venus, essas histórias nos marcam e ficam para sempre na memória.
Algumas acusações surgiram contra a diretora do filme, Jennie Livingston, e acredito que este artigo de Jorge Marcelo Oliveira explica bem os “poréms” do filme. Mesmo assim, acho um documentário importante, que merece ser visto.
A Um Passo do Estrelato
Provavelmente, “A Um Passo do Estrelato” é meu documentário favorito da lista. Ele conta a história de gente que chega perto, muito perto do estrelato, mas que nunca ganham os spotlights: os cantores de apoio.
Ou backing vocal, se você preferir.
Com participações de Bruce Springsteen, Mick Jagger, Stevie Wonder, Sting e outros artistas, “A Um Passo do Estrelato” vira os refletores para os personagens secundários das maiores músicas da história. O filme ainda tem imagens de apoio de David Bowie, Ray Charles, Elton John, Michael Jackson, John Lennon, Tom Jones, Rod Stewart, Paul McCartney e tantos outros cantores que usaram backing vocal para dar profundidade às suas canções.
O foco do documentário é jogado em Darlene Love, Merry Clayton, Tatá Vega, Janice Pendarvis, Lisa Fischer e Judith Hill. A narrativa se apoia nessas personagens para contar um pouco da história dos backing vocal e de como a música evoluiu através do trabalho delas (e deles também!)
Uma das histórias que mais me fascinou foi a de como fizeram os backing vocals de “Gimme Shelter”, dos Rolling Stones. Por algum motivo que só Deus conhece, eu achava que era o próprio Mick Jagger que fazia aquela voz sensacional, gritando “Rape, murder yeah, it´s just a shout away”. Mas não, Merry Clayton é a responsável por isso.
No documentário, ela conta que estava grávida e que era tarde da noite, quando ela recebeu uma ligação de um produtor local, que dizia que a banda dos “rolling qualquer-coisa” precisava de uma mulher para fazer uma voz de fundo. Merry já estava de pijama de seda e casaco de pele, com rolinhos no cabelo, cobertos por uma écharpe da Channel. E foi assim que ela gravou o vocal, em duas meras passadas.
O vídeo abaixo explica um pouquinho mais a fundo:
De cair o queixo, não?

Aqui vai o trailer completo do documentário:
Betting on Zero
Ugh, esse documentário me deixou tão brava!!!! Toda vez que eu penso nele, eu fico mais brava ainda!!!
“Betting on Zero” é um documentário que conta um pouco da história da empresa Herbalife, para além dos shakes e suplementos vitamínicos que eles vendem. Através de vídeos e depoimentos de vítimas, o diretor Ted Braun busca mostrar que os verdadeiros lucros da empresa não vêm da venda lícita dos produtos para quem quer ter uma vida saudável, mas sim, de um esquema de pirâmide.
Chame de Marketing Multinível ou do que for, o documentário mostra depoimentos de várias pessoas que caíram no esquema, gastaram rios de dinheiro e criaram “Clubes de Nutrição” com o objetivo de recrutar novas pessoas para realizar o mesmo trabalho e assim por diante. Sem nunca receber um centavo de volta e sendo muito prejudicadas por causa disso.
Nós seguimos a história de um grupo de latinos que moveu uma ação em conjunto contra a empresa. Também seguimos a história de Bill Ackman, um hedge fund manager que investiu mais de 1 bilhão de dólares (não, não foi ele quem financiou o documentário) na tentativa de fazer com que a empresa fosse investigada pelo governo americano, porque acreditava que o fim da Herbalife seria bom para todo o mercado econômico dos EUA. Além disso, ele acredita que, por ser financiada através do engano de outras pessoas, a Herbalife não seria uma empresa legítima.
Por fim, o documentário mostra a participação de Carl Icahn, um investidor que decide dar rios de dinheiro à Herbalife, pela pura razão de detestar Bill Ackman. Icahn acabou sendo nomeado por Donald Trump como Assessor Especial da Presidência para a Reforma Regulatória.
Um verdadeiro drama, para ser sincera.
O documentário é bem recente e alguns dos acontecimentos nele datam de março de 2017, o que é uma raridade. É difícil encontramos documentários tão atuais assim no Netflix. Outro ponto a favor é de que, apesar de mostrar muito da vida do Bill Ackman e das atitudes dele em relação à empresa, o documentário tem o mérito de mostrar um outro lado e de questionar as verdadeiras intenções de Ackman. Esse é um dos filmes mais imparciais que já vi, apesar de denunciar um comportamento ilícito.
Em tempos de crise financeira, com o Brasil chegando a 14 milhões de desempregados (para vocês terem uma ideia, ainda que o tempo tenha passado e que as coisas sejam bem diferentes, na época em que Hitler foi eleito na Alemanha, eles tinham cerca de 7 milhões de desempregados), é bem comum que as pessoas estejam desesperadas em busca de alternativas. Anúncios sobre “ganhe dinheiro fácil, sem sair de casa” pipocam por todo lado e quase todo mundo quer te oferecer coisas da Hinode ou um novo esquema da Polishop, para o qual me convidaram dias atrás. A relevância do documentário atualmente é enorme.
O grupo de latinos foi o que mais me tocou e o que mais me enfureceu. Sem falar inglês e muitos sendo imigrantes ilegais, eles sofreram inúmeros prejuízos e não podem denunciar a Herbalife porque ela denuncia a ilegalidade deles. Os casos reais mostrados no filme acabam te emocionando e é impossível não sentir empatia ou pena dos que foram lesados pela empresa. Há uma seção inteira no site oficial do documentário que mostra as tentativas da Herbalife em silenciar o documentário.
Eu não sei como é que a Herbalife atua no Brasil, mas, sinceramente, acho que nem quero saber. O pior de tudo é que muitas pessoas têm noção de que o que estão fazendo é ilegal e quem ficar na parte debaixo da pirâmide irá desmoronar e ser prejudicado. E mesmo assim, seguem fazendo sem nenhum escrúpulo, só querendo conseguir mais e mais dinheiro, ainda que para isso tenham que enganar terceiros.
“Betting on Zero” acaba te ensinando muito sobre principios econômicos e te fazendo perder um pouco de fé na humanidade.
Being George Clooney
Outro documentário que está entre os mais divertidos que já vi, em conjunto com “A Um Passo do Estrelato”. Uma das coisas mais legais sobre ele é que o projeto foi quase todo financiado através do Kickstarter.
Being George Clooney aborda diretamente outro trabalho que também pode ser invisível, mas que é essencial para a indústria do entretenimento. Afinal de contas, atire a primeira pedra quem nunca ouviu um “Versão Brasileira, Herbert Richers”, antes de ver um filme, né? Aliás, recomendo que você não clique nesse vídeo. Ele apareceu enquanto eu pesquisava mais sobre esse documentário e agora a música não sai mais da minha cabeça.
Em “Being George Clooney”, o mundo dos dubladores ganha cores e faces e sotaques.
A princípio, os nomes Marco Antonio Costa, Rajesh Kattar, Martin Umbach, Tamer Karadagli e Francesco Pannofino não parecem ter nada em comum. Os tipos físicos, sotaques e rostos são completamente diferentes. Mas os 5 são os responsáveis por emprestar suas vozes para o ator George Clooney e fazem o trabalho de tornar o ator ainda mais sexy e galã, só com o vozeirão.
Marco Antonio Costa é o dublador brasileiro do George e, além disso, ele é médico. Sério. A história apresentada no documentário é super interessante. Na época das filmagens de “E.R.: Plantão Médico”, as traduções dos termos médicos não ficaram muito boas. Marco Antonio foi convidado para ajudar eles com isso e, de quebra, fez também a voz icônica.
Outros dubladores brasileiros também participam do doc, além de especialistas que ajudam a explicar porque a dublagem é um sucesso em determinados países, como a Itália.

Eu amei a participação da Sheila Dorfman, que é a dubladora brasileira da Sandra Bullock. Eu cresci vendo os filmes da Sandra Bullock direto na TV, no dublado mesmo, e achei bizarro quando ouvi a voz em inglês da Sandra e descobri que não era a voz da Sheila. A Sheila Dorfman faz uma fala muito interessante no documenário, sobre a estranha intimidade entre os dubladores e os atores dos filmes. Eles acabam conhecendo tudo, até mesmo a forma como os atores costumam respirar. A Sheila também dubla a Paola Bracho, Usurpadora, a Lorelai, de Gilmore Girls, a Mônica, de Friends e a Xena! haha Haja diversidade!
“Being George Clooney” é um documentário a ser visto quando se quer relaxar ou distrair um pouco a cabeça. Qualquer pessoa que viu um filme dublado alguma vez vai amar descobrir os bastidores dessa profissão.
Espero que gostem da minha seleção de 4 documentários interessantes para ver no Netflix. Eu ia escrever mais, sobre outros documentários. Mas vi o tamanho do post e acabei decidindo parar nesses 4 mesmo. Prometo que teremos mais versões deste post no futuro próximo do blog.
Beeijos, A Garota do Casaco Roxo