O Carteiro e o Poeta – Antonio Skarmeta

capa antiga do livro o carteiro e o poeta

Nome: O Carteiro e o Poeta

Autor: Antonio Skarmeta

Editora: Record

Páginas: 128

Preço: R$ 30, 00 (mas a BestBolso, um dos selos do Grupo Editorial Record, tem o mesmo livro por R$ 15, 00. Se você vai comprar este livro em um sebo, saiba que ele já foi chamado de ‘’Ardente Paciência’’ e de ‘’O Carteiro de Neruda’’.).

Contei aqui um tempo atrás sobre como tinha amado o filme ‘’ O Carteiro e o Poeta’’, me apaixonei pela linguagem doce e pela figura de Neruda, mesmo sem nunca ter lido muita coisa dele. Por isso, fui até a biblioteca decidida a ler poesia e entender melhor o filme, acabei saindo de lá com o livro que deu origem a toda história.

‘’O Carteiro e o Poeta’’ conta a história de Mario Jimenéz, um garoto de 17 anos que é forçado pelo pai, um pescador da Isla Negra, no Chile, a encontrar um emprego. Já que ele tinha uma bicicleta, o correio postal da cidade o contrata e o deixa responsável por entregar a correspondência ao morador mais celebre do lugar, o poeta Pablo Neruda.

E assim, Mario e Neruda começam uma amizade verdadeira com o poeta ensinando o carteiro a arte da poesia. Até que um dia, Mario se apaixona Beatriz, filha da viúva dona do bar da cidade, que não acha que um carteiro seja um bom pretendente. E assim,  poeta e o carteiro se unem para tentar conquistar a garota e fazer com que a mãe dela o aceite como pretendente.

Quando o casamento está arranjado, Neruda parte para Paris para se tornar embaixador e de lá, envia a Mario um gravador Sony, deixando o responsável por gravar os sons de Isla Negra e ajudar a aliviar as saudades.

– O que eu tenho para dizer é muito sério para falar sentada.
– Do que se trata, minha senhora?
– Já faz alguns meses que esse Mario Jiménez rodeia minha estalagem. Este senhor anda de gracinhas com minha filha de apenas dezessete anos.
– Que foi que disse a ela?
A viúva cuspiu entre os dentes:
– Metáforas.

P. 60″

É difícil não se apaixonar pela história, as descrições são feitas com metáforas, deixando o texto poético e construindo um cenário de tirar o fôlego. Chega a ser decepcionante levantar o rosto do livro e perceber que você não está sentada em uma pedra a beira mar ao lado de Neruda e Mario.

“O poeta engoliu a saliva.
– E aí?
– Pois é, dom Pablo, com as metáforas ele mantém minha filha mais quente que uma marmita!
– É inverno, Dona Rosa.
– A minha pobre Beatriz está se consumindo toda por esse carteiro. Um homem cujo único capital são os fungos entre os dedos dos pés cansados. Mas se os pés fervem de micróbios, sua boca tem o frescor de uma alface e se enreda como uma alga. E o mais grave, dom Pablo, é que as metáforas para seduzir minha menininha ele copiou descaradamente de seus livros.

P. 60

As diferenças entre o livro e o filme são gritantes, mesmo assim, alguns diálogos estão representados fielmente. O principal ponto foi que, no filme, removeram toda a parte política que torna o livro ainda mais encantador e, principalmente, real. Acho engraçado como sabemos pouquíssimas coisas sobre os países da América Latina, pelo menos em termos de história recente, e esse foi justamente um dos motivos de eu ter amado esse livro.

Ao pegar o relacionamento de Mario e Neruda, Antonio Skarmeta me deu uma verdadeira aula sobre a ditadura Chilena e, mesmo ignorando alguns acontecimentos importantíssimos para aquele país, me vi envolvida e mais e mais curiosa com o assunto (me deu até vontade de conhecer o Chile, coisa que eu nunca pensei em fazer. Até então). Foi mais como ouvir minha avó contando histórias do que ela passou, só que, no caso, na ditadura uruguaia.

“- Não senhor! Uma coisa é eu ter dado de presente a você um par de meus livros, e outra bem distinta é que eu tenha autorizado você a plagiá-los. Além do mais, você deu a ela o poema que eu escrevi para Matilde.
– A poesia não é de quem escreve, mas de quem usa!
– Alegra-me muito essa frase tão democrática, mas não levemos a democracia ao extremo de submeter a uma votação dentro da família para saber quem é o pai.

P. 65″

Recomendo o livro para todo mundo. Não consigo pensar em algum ponto negativo que faça com que alguém não goste do livro (a não ser que você não tenha sentimentos ou não entenda metáforas). Mesmo não conhecendo Neruda ou o Chile profundamente você vai se apaixonar, se emocionar (só não chorei no final porque estava em praça publica), sorrir, se deliciar e ficar refletindo ao final da leitura.

Para saber mais sobre a morte de Neruda, leia essa entrevista da *cofcofcof*Veja*cofcofcof* com o autor do livro.

Beijoos, A Garota do Casaco Roxo

 PS: Pesquisando um pouco sobre Antonio Skarmeta, descobri que um de seus livros não publicados deu origem ao filme ‘’No’’ que eu comentei aqui.

PPS – 17.ago.2017: Eu gostei tanto de “O Carteiro e o Poeta”, que eu peguei empretado na biblioteca, que acabei comprando uma edição só para mim. Naquela época, o livro estava fora das prensas e esgotado nas livrarias, então tive que recorrer ao Estante Virtual e a um Sebo daqui de São Paulo.

Talvez pela ocasião da estréia do novo filme do Selton Mello, “O Filme da Minha Vida”, que foi totalmente baseando em um outro livro do Antonio Skármeta, o “Um Pai de Cinema”, a Editora Record decidiu republicar “O Carteiro e o Poeta” com uma capa nova.

capa da nova edição de o carteiro e o poeta de antonio skármeta

O livro é em capa dura, se eu não me engano e a nova capa é linda! Eu sei que já tenho a minha edição, mas acho que (na verdade, tenho certeza) assim que puder, eu comprarei a nova edição.