Nome: The Brief Wondrous Life of Oscar Wao
Autor: Junot Díaz
Páginas: 339
Editora: Riverhead Books
Idioma: Inglês avançado e algumas expressões em espanhol. Para quem não lê em inglês, “A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao” foi publicado em 2015 no Brasil, pela Editora Record. Recentemente, eu vi uma edição desse livro na Nobel do Shopping Tatuapé, por apenas R$ 12.
“The Brief Wondrous Life of Oscar Wao” é, provavelmente, o livro mais difícil que li em inglês. Mais difícil até do que livros clássicos, como “Jane Eyre”, minha leitura do momento. Imagino que ele deva ser uma leitura complicada até para nativos desse idioma, porque contém expressões idiomáticas e trechos de conversas em espanhol (fiquei super curiosa em como a tradução desse livro para o português foi feita). O Prêmio Pulitzer que ele ganhou em 2008, como melhor ficção, não é à toa. Mesmo.
No livro, nós acompanhamos a vida de Oscar Wao. Hispânico, gordo, nerd e morador dos guetos de Nova Jersey… Aparentemente, não tem nada na vida de Oscar que seria motivo para um livro só dele.
“I saw my chance and eventually I took it. If you didn’t grow up like I did then you don´t know and if you don’t know it’s probably better you don´t judge.” p. 55
O que torna esse livro digno de atenção – e de uma leitura – são as diversas histórias anteriores – e posteriores – à existência de Oscar.
Nós seguimos a vida da mãe de Oscar e de suas aventuras na República Dominicana, em plena ditadura de Trujillo. Nós seguimos a vida da irmã de Oscar, cometendo quase os mesmos erros que a mãe. Nós temos a “avó de criação” da família, Nena Inca, que é personagem constante durante toda a narrativa e, por fim, algumas das aventuras de Oscar, que só no final começa a realmente ter uma vida.
As diferentes histórias têm certa ordem cronológica, mas é preciso ter bastante atenção porque os narradores mudam também. Cada capítulo, segundo Junot Díaz, vai mais e mais além na história da família.
“She could not abide, period, Everything about her present life irked her; she wanted, with all her heart, something else. When this dissatisfaction entered her heart she could not recall, would later tell her daughter it had been with her all her life, but who knows if this is true? What exactly it was she wanted was never clear either: her own incredible life, yes, a handsome, wealthy husband, yes, beautiful children, yes, a woman’s body without question.” p. 79
O único personagem da narrativa que, curiosamente, não conta sua própria história é Oscar, o assunto do livro. Os narradores vão se intercalando e é quase como um roteiro de documentário.
“I was the tallest, dorkiest girl in the school, the one who dressed up as Wonder Woman every Halloween, the one who never said a word. People saw me in my glasses and my hand-me-down clothes and could not have imagined what I was capable of.” p. 57
Estou lendo o Guia do Estudante de Atualidades, porque senti que precisava estar mais informada sobre o mundo e sobre os acontecimentos recentes. Nos capítulos sobre a Venezuela e a Colômbia, fiquei um pouco assustada com o pouco que eu sabia sobre a história desses dois países. Sério, pergunte-me sobre a Revolução Francesa e a Guerra de Secessão e eu provavelmente saberei te dar bons detalhes. Mas sobre a história dos nossos países vizinhos? Niente.
Por que eu digo isso? Porque um dos personagens principais do livro é a República Dominicana, país de origem da família de Oscar e para onde todos os membros da família vão para se refugiar dos acontecimentos dramáticos de suas vidas – nem todos ao mesmo tempo e sempre com razões diferentes.
“[…] the guaguas, the cops, the mind-boggling poverty, the beggars, the Haitians selling peanuts at the intersections, the mind-boggling poverty, the asshole tourists hogging up all the beaches, the Xica da Silva novelas where homegirl got naked every five seconds that Lola and his female cousins were cracked on […]” p. 277
O país governado por Trujillo tem um grande papel na história pessoal dos antepassados de Oscar. Ao longo da narrativa, informações são reveladas sobre a vida de cada um dos atores da família de Oscar. Seu avô e sua avó reais (Nena Inca é só uma avó de criação), sua mãe e seu pai… todos esses foram diretamente impactados pelo regime ditatorial e é incrível entender como tudo se encaixa.
Veja esse livro como um grande quebra-cabeças, ou uma cebola em que você vai removendo as camadas para entender o interior. Ao final da leitura, fiquei com vontade de reler o livro, para ver se eu tinha deixado algum detalhe escapar.
“You have the same eyes as your abuelo, his Nena Inca had told him on one of his visits to DR, which should have been some comfort – who doesn’t like resembling an ancestor? – except this particular ancestor had ended his days in prison.” p. 20
Para nós, os desinformados que não sabem de nada sobre a história da República Dominicana, Junto Díaz deixa excelentes notas de rodapé, que se estendem por duas, três páginas do livro, mas que ajudam a contextualizar o estado do país e da população naquela época.
Apesar de ter lido pouco, eu adoro escritores latino-americanos e o realismo fantástico que sempre aparece nessas histórias. Junot Díaz nasceu em Santo Domingo, mas foi criado em Nova Jersey e, mesmo assim, há um toque de literatura fantástica na narrativa. Só para deixar Oscar feliz.
Outra coisa fascinante é a presença do misticismo que só os latinos têm. Até mesmo orixás e superstições de azar e de boa sorte entram no meio da vida de Oscar e ganham um papel importante na narrativa. Só para garantir as coisas: Zafa
“Maritza, with her chocolate skin and narrow eyes, already expressing the Ogún energy that she would chop at everybody with for the rest of her life.” p. 14
Essa é uma leitura para aqueles que querem sair da zona de conforto e se desafiar um pouco mais, mas também para aqueles que sabem que, no final, você só está no lugar em que está hoje por conta de seus antepassados.
Beeijos, A Garota do Casaco Roxo