Confesso que vi “Marguerite” e “Bem-vindo a Marly-Gomont” faz tempo. Na verdade, eu estava esperando para fazer uma master-list de filmes em francês, que são contemporâneos (por mais que eu ame, não colocaria Amélie Poulan nessa lista) e que, o principal, estão disponíveis no Netflix.
Mas… eu empaquei nos filmes. Comecei de novo nessa onda de ver documentários e com tanto seriado legal novo (vi toda “Girlboss” em uma noite e ainda estou digerindo), deixei os filmes meio que de lado e optei por parar com essa de enrolar meus textos.
Marguerite
Dirigido por Xavier Giannoli e estrelado por Catherine Frot (que também fez “Os Sabores do Palácio”, disponível no Netflix e que eu pretendo ver assim que tomar vergonha na cara). “Marguerite” conta a história de Marquerite Dumont, uma mulher rica que ama as artes e a música. Ama tanto, mas tanto, mas taaaanto, que convenceu a si mesma de que é uma excelente cantora. Só que não.
Marguerite é mais desafinada que o grito de um porco que está tendo seu rabo torcido. É capaz de quebrar taças, não com sua potência vocal, mas porque as taças decidiram sair deste mundo cruel através do suicídio. E a pobre coitada também não tem nenhum amigo, capaz de dizer a ela a verdade.
A questão é que ela é muito rica e, na Paris dos anos 20, riqueza é sinônimo de influência. Ninguém quer entrar na lista negra de Marguerite ao dizer para ela que ela é uma péssima cantora.
O marido e os funcionários da casa de Marguerite ajudam-na a nutrir sua ilusão. Os convidados das pequenas soirées que ela organiza em sua casa, também aplaudem e sorriem, sob tortura.
Tudo vai bem e o segredinho obscuro da alta sociedade parisiense está bem escondido, até que… Marguerite, influenciada por um jornalista sarcástico e que precisa de dinheiro, decide amplificar seu talento a máximo, com a ajuda de um treinador e professor, e se apresentar em público, para todo mundo ouvir.
TAN TAN TAN.
Esse filme tem algo de cômico e de engraçadinho, parece até um quadro dos Trapalhões ou coisa do tipo. Mas é um drama bem triste e, quanto mais eu pensava na situação de Marguerite, menos engraçado eu encontrava seus agudos e seus gritos desesperados.
O nível de francês é bom para quem tá começando, porque eles falam relativamente devagar. Ainda mais que é um filme de época, né? Mas, recomendo que não o vejam usando fones de ouvido, porque meu ouvido chegou a doer, nas cenas de canto de Marguerite. E olha que eu gosto de música clássica.
O mais legal é que a história, por mais bizarra que possa parecer, foi inspirado em uma vida real. Florence Foster Jenkins também era uma mulher rica, que adoraria se tornar uma cantora de ópera, apesar de não ter voz para isso.
Um segundo filme sobre a vida de Florence Foster Jenkins foi feito, estrelado por Meryl Streep. “Florence: Quem é essa mulher” é só um pouco diferente de “Marguerite”, se passa em Nova York, por exemplo, mas eu ainda não vi para poder comentá-lo.
Trailer de “Florence: Quem é essa mulher”:
Bem-vindo à Marly-Gomont
“Bem-vindo à Marly-Gomont” conta a história de um estudante de medicina, natural do Zaire, Seyolo Zantoko, que é interpretado por Marc Zinga.
Depois de formado, Seyolo recusa a oportunidade de voltar para sua terra natal e trabalhar para a aristocracia de lá. Ao invés disso, ele decide ficar na França e ser o médico responsável pelo vilarejo Marly-Gomont.
Junto com sua família – a esposa e dois filhos – Seyolo tem a difícil função de ganhar a confiança do vilarejo, se integrar e ser feliz em um ambiente bem racista, xenofóbico e provinciano. O filme se passa nos anos 80 e é baseado em uma história real, quem escreveu a história foi o filho de Seyolo.
Apesar dos temas abordados, o filme é muito leve e, ao invés de pender para críticas ao racismo e a xenofobia do povoado, ele usa o humor para exemplificar as situações. O horror da cidade quando os parentes barulhentos de Seyolo chegam em meio à uma celebração solene é hilário. As ligações entre Seyolo e a comunidade vão se desenvolvendo aos poucos e o filme acaba virando uma comédia leve.
Há uma certa redenção, perto do final, mas não achei ela muito verídica. Talvez, se o filme fosse um pouquinho mais longo, eu conseguisse entendê-los um pouco melhor.
De qualquer forma, o filme é agradável e despretensioso e pode ser visto sem medo de ser feliz. O nível de francês é um pouco mais alto que o de Marguerite, porque eles falam super rápido. Além disso, há trechos em Lingala, a língua do Zaire, que também são super engraçados.
E aí, tem mais algum filme em francês no Netflix que eu deveria estar vendo? Alguma sugestão?
Beeijos, A Garota do Casaco Roxo