Escrever um livro pode parecer uma tarefa fácil, mas não é. Entre pesquisa, elaboração de enredo, mais pesquisa, mais elaboração de enredo, escrita, escrita, escrita, escrita, revisão, revisão, revisão e revisão, existe muito mais trabalho do que pode parecer inicialmente.
Por vezes, esse é um ofício que não ganha reconhecimento pelo esforço que demanda. Até mesmo autores publicados têm dificuldade em viver só de escrever livros e, normalmente, possuem aquilo que os americanos chamam de “day job”, um trabalho fixo, que permita que eles paguem as contas e sigam escrevendo.
Dessa forma, não é estranho ouvir histórias de escritores best-seller, traduzidos em 40 países e com livros adaptados para o cinema, que trabalhavam como zeladores, supervisores de dormitórios e até cantores (James Joyce, por exemplo, era cantor e pianista e também trabalhou operando um projetor de cinema, antes da publicação de “Dublinenses”).
Por isso, deixe um pouco a caneta e o bloquinho de lado, leia essa lista e inspire-se nas diversas profissões que escritores famosos tinham, antes de se tornarem um sucesso!
- Meg Cabot era supervisora de um dormitório de faculdade
Também conhecida como minha escritora favorita, Meg Cabot foi aconselhada pelos pais a ter uma profissão que desse dinheiro, antes de se jogar no mundo literário. Então, ela estudou Arte, na Indiana University. Coisa que, convenhamos, também não dava muita estabilidade.
Quando a faculdade terminou, ela se mudou para Nova Iorque, porque era “onde as oportunidades estavam” e passou a trabalhar em uma livraria, ainda sem escrever nada.
Foi nessa época que ela começou a ficar curiosa com os romances históricos. Meg via que eles vendiam muito e achou que conseguiria escrever um. Para se testar, acabou escrevendo 4 livros, sem ter coragem de mandar para nenhuma editora, com medo de ser rejeitada (quando ela finalmente publicou as obras, fez sob o pseudônimo de Patricia Cabot, porque não queria que a avó lesse as cenas de sexo!).
Depois disso, Meg conseguiu um emprego como gerente assistente de um dos dormitórios da New York University. Ela adorava porque “estava rodeada de jovens, e a maioria deles dormia até o meio-dia, todos os dias, então eu conseguia escrever durante as manhãs.” Com o emprego, ela podia frequentar algumas aulas da New York University e usou a oportunidade para estudar editoração e um pouco de escrita criativa.

Foi assim que ela escreveu o livro pelo qual ficou conhecida, “O Diário da Princesa”, que foi rejeitado por várias editoras.
Quando ela finalmente conseguiu um agente literário para ajudá-la no processo de publicação, a Disney ficou sabendo da existência do livro e comprou os direitos, antes mesmo que ele fosse publicado.
Sem manter as esperanças altas, já que muitos livros têm seus direitos comprados para o cinema, sem se tornarem filmes em si, a Meg continuou trabalhando no dormitório da New York University.
Quando o filme realmente estava prestes a ser lançado e a Disney enviou um cheque enorme para a escritora, ela finalmente pediu demissão. Naquela época, ela já estava trabalhando nos livros da Mediadora e já tinha vários outros contratos de publicação (Meg chegou a escrever 12 livros em um ano, gente!), que davam estabilidade financeira a ela.
Toda essa história pode ser lida no texto da Cosmopolitan escrito pela própria Meg. Há outro artigo no blog dela, com dicas de escrita. A principal delas é, adivinhe só, ter um emprego para pagar as contas. Ela também dá a estatística assustadora de que apenas 2% dos escritores publicados ganham dinheiro suficiente para viver somente de escrita. Como o texto é de 2003, vamos torcer para esse número ter aumentado, nem que seja só um pouquinho.
- Vladimir Nabokov era um entomologista
Quem diria que o escritor de “Lolita” trabalhava estudando insetos, hein? Um verdadeiro Gil Grissom.
Vladimir Nabokov não só era um entomologista, como era bem famoso e reconhecido no ofício. Ele trabalhou na Wellesley College e depois foi para Harvard, onde atuou como Curador da Coleção de Borboletas do Museu de Zoologia Comparada. Muito louco, não? Foi mais ou menos nessa época que a esposa de Nabokov o convenceu a publicar “Lolita”, em uma história parecida com a do Stephen King.
Nabokov também formulou uma Teoria da Evolução das Borboletas, que só foi comprovada em 2011, por meio de exames de DNA. Por essa eu não esperava!
- John Green era capelão de um hospital de crianças
Antes de se tornar um escritor, John Green estava estudando para ser pastor de uma igreja protestante. É sério.
Em 2000, por 5 meses, John Green foi o capelão de um hospital pediátrico, como parte do seu “Processo de Discernimento” – tipo de imersão espiritual que os que querem virar pastor devem fazer em hospitais, cemitérios e aeroportos. Ele fez esse processo pela University of Chicago Divinity School.
Algumas das personalidades dos personagens de “A Culpa é das Estrelas” foram, em parte, baseadas nessa imersão do Green. Se você tiver paciência de ver outra pessoa jogando videogame, o próprio autor fala sobre esse processo nesse vídeo aqui.
- Margaret Atwoood era garçonete e caixa de uma cafeteria
A escritora de “O Conto da Aia” é bem conhecida em países de língua Inglesa e agora está ganhando ainda mais popularidade.
O que pouca gente sabe é que, antes de ser escritora, Margaret Atwood era garçonete e caixa de uma cafeteria. A experiência foi terrível porque ela detestava o trabalho e os clientes grosseiros, e ainda era assediada por um ex-namorado, que ia até o estabelecimento só para olhar para cara dela. Tipo aquela mulher do Amélie Poulain, sabe?
Margaret escreveu sobre essa experiência em um conto chamado “Ka-Ching!” e nesse texto no blog dela.
- Arthur Conan Doyle era médico
Ora, ora, ora, parece que temos um Xeroque Holmes aqui!!!
Conan Doyle se formou em Medicina pela University of Edinburgh e trabalhou por um tempo na Marinha Britânica, como médico da tripulação de navios.
Depois, em 1882, ele se estabeleceu em Southsea, Hampshire, e montou um consultório médico. Para passar o tempo entre um paciente e outro, ele escrevia histórias.
O primeiro livro de sucesso dele, “Um Estudo em Vermelho”, foi publicado apenas em 1887 e ele ainda demorou um pouco para largar a carreira de médico e se dedicar a ser um escritor em integralmente.
- Douglas Adams teve mais empregos do que você pode imaginar
De todos os escritores da lista, Douglas Adams, famoso pelo Guia do Mochileiro das Galáxias, é o que teve a carreira mais diversa e fascinante.
Ele trabalhou como porteiro de hospital, segurança de hotel e cuidador de galinhas, enquanto escrevia textos para programas de rádio e TV.
Mas, sem dúvidas, o trabalho mais exótico dele foi como guarda-costas de uma família multimilionária de magnatas do petróleo do Qatar.
- Harper Lee trabalhava no guichê de uma companhia aérea
“O Sol é para Todos” é um dos meus livros clássicos favoritos e deu à Harper Lee o Prêmio Pulitzer de Ficção, em 1961.
O que ninguém sabe é que, talvez, ele nem teria sido escrito, se não fosse por um presente generoso.
Explico: Harper Lee trabalhava reservando e emitindo passagens aéreas para a Eastern Airlines e tinha o sonho de se tornar uma escritora profissional. Tão grande era esse projeto que ela chegou a viajar para o Kansas, na companhia de Truman Capote, para ajudá-lo nas pesquisas e entrevistas de seu famoso livro de não-ficção “A Sangue Frio”.
Lee seguiu trabalhando na companhia aérea até que, em um Natal, recebeu um bilhete de seus amigos que dizia “Você tem um ano de folga do seu trabalho, para escrever o que quiser. Feliz Natal”. Junto ao cartão, havia um cheque com os salários equivalentes a um ano de serviço.
Foi nesse ano “presenteado”, que ela escreveu “O Sol é para Todos”.
- Stephen King era zelador de uma escola de Ensino Médio
Antes de ser o escritor aclamado de mais de 60 livros, Stephen King se formou em Educação, na Universidade do Maine e teve diversos trabalhos. King trabalhou em uma lavanderia e em um posto de gasolina, mas seu ofício mais notório foi como zelador e faxineiro de uma escola de Ensino Médio.
A vista dos corredores e dos armários da instituição o inspirou a escrever a cena de abertura de “Carrie, a Estranha”, cujo rascunho ele jogou no lixo, depois de escrever 3 páginas. Por sorte, o texto foi descoberto por sua esposa, Tabitha, que convenceu ele a continuar escrevendo porque ela queria saber o que ia acontecer.
- Suzanne Collins escrevia roteiros de TV de programas infantis
Antes de ser conhecida no mundo todo pelo livro “Jogos Vorazes”, Suzanne Collins tinha uma sólida carreira como roteirista de programas infantis. Ela fez parte de vários projetos do Nickelodeon, incluindo “Clarissa explica tudo”, que era estrelado pela Melissa Joan Hart, de “Sabrina, Aprendiz de Feiticeira”. Ela também escreveu episódios de “Os Arquivos de Shelby Woo” e acredita-se que essas experiências tenham ajudado a construir a personalidade de Katniss Everdeen.
- George Orwell era policial
Andei lendo George Orwell, para a Revista Pólen, e ando um pouco fascinada com ele. Nascido Eric Arthur Blair, ele trabalhou como um policial da Polícia Imperial Indiana, em Burma. Ele protegia cerca de 200 mil pessoas e era reconhecido por seu “elevado senso de justiça”.
Depois disso, ele atuou como jornalista, em uma profissão um pouco mais próxima do trabalho de escritor.
- Sophie Kinsella era uma jornalista de finanças
Sophie Kinsella é o pseudônimo de Madeleine Wickham. Assim como sua personagem Becky Bloom, Madeleine é jornalista, especializada na cobertura do mercado financeiro.
Por achar o trabalho “sem inspiração e nada empolgante”, ela escrevia livros para passar o tempo, durante o horário de almoço e a noite.
Antes de publicar “Os Delírios de Consumo de Becky Bloom”, ela já tinha escrito – e publicado! – outros 4 livros.
Madeleine também trabalhou com o marido em recitais de música. Enquanto ele cantava, ela o acompanhava no piano. Legal, né?
- Rainbow Rowell era colunista de jornal
Rainbow Rowell tinha uma profissão mais próxima do mundo da escrita, trabalhando como colunista do Omaha-World Herald por 10 anos. Na faculdade, ela se formou em três áreas: Jornalismo, Publicidade e Inglês.
Ela teve experiências nesses três campos, antes de se firmar como escritora.
Ela diz, “quando eu estava na faculdade, estudar Inglês sempre pareceu uma coisa extra, quase uma indulgência. Eu adorava a ideia de escrever ficção e até poesia, mas queria um trabalho que viesse com um seguro de saúde e um salário estável. Eu cresci em uma família pobre, então ser uma artista morte de fome tinha zero de apelo para mim.”
Preach, Rainbow, Preach.
- Nicholas Sparks trabalhou como telemarketing
Antes de se tornar famoso por fazer todo mundo chorar com seus livros, Nicholas Sparks teve trabalhos diferentes. Ele, inclusive, tentou ir para a Faculdade de Direito, mas foi rejeitado. Ops.
Um dos trabalhos de Sparks foi vender produtos dentais por telefone. Diferente, né?
- Agatha Christie era farmacêutica assistente
Agatha Christie era uma das assistentes de farmacêutico sendo examinadas pela Cruz Vermelha, em 1917. Aparentemente, Agatha tinha grandes conhecimentos sobre drogas e venenos e isso ajudou-a em sua carreira como escritora.
Durante a Primeira Guerra Mundial, em 1914, Agatha Christie era uma das voluntárias do exército e passou 4 anos no auxílio às tropas feridas em um Hospital Militar em Devon, na Inglaterra.
- Dan Brown era professor
Outro que figura no hall dos meus escritores favoritos, Dan Brown e eu temos uma coisa em comum! Nós dois frequentamos a Phillips Exeter Academy, em Exeter, New Hampshire.
Dan Brown era filho de um dos professores da escola preparatória (que também foi onde Mark Zuckerberg estudou) e praticamente cresceu no campus.
Alguns anos depois de se formar na Amherst College, Brown voltou para Exeter como professor de Inglês. Tudo bem que isso foi antes de eu nascer, mas se ele tivesse esperado uns, sei lá, 18 anos, eu poderia ter tido aulas com ele. Doido, né?

Espero que essa lista sirva de inspiração para que você termine seus projetos e siga em frente com eles. Aquela frase que diz que o sucesso é 10% inspiração e 90% transpiração é pura verdade. Esses autores lutaram muito para chegar onde chegaram, só que a gente não viu nem metade desse esforço.
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Beeijos, A Garota do Casaco Roxo