Autora: Laura Malin
Editora: Agir
Páginas: 361
Preço: R$ 31,90 no site da Travessa (nas outras livrarias acredito que ainda estão distribuindo)
Em 2011, num encontro em um clube do livro conheci Laura. Por sorte, no mesmo encontro ganhei ‘’O Livro de Joaquim’’ e não pude não me encantar com as palavras e a história de amor imortal.
Joaquim e Leah se conheceram em Fernando de Noronha, em 1824. Não é preciso dizer, era um amor impossível, ela estava prometida a um marquês português e ele era um mero reparador de barcos. Quando ambos decidem fugir, uma estrela cai do céu, Leah é levada embora e Joaquim é cruelmente assassinado. O que ambos não sabem é que a estrela cadente os tornou imortais, e assim, Joaquim e Leah passam quase dois séculos procurando um ao outro.
‘’Eu não posso mais ir adiante. Já transpassei todos os limites. Cortei os céus em busca dele e, soprada pelos ventos, continuei. Me transferi de vidas, fui outras e muitas, todas tão iguais quanto diferentes. Matei e não morri. Procurei por ele em outros homens, em outras mulheres. Em outras terras, outras épocas. Com a única certeza de que o céu que nos liga sempre foi o mesmo.
p.9’’
Em 2012 (“Livro de Joaquim’’ foi lançado em 2011, então líamos a história como se estivesse no futuro. Já na continuação, lemos como se estivesse no passado. Fato aleatório, mas interessante), Leah finalmente acredita ter encontrado seu Joaquim e é assim que a história se desenvolve, com a expectativa do reencontro e com as dúvidas que permeiam a relação.
‘’E calei. E ele calou. E foi um dos momentos mais aterrorizantes que eu vivi, pois aquele silêncio expunha nossas reais fraquezas. Não as fragilidades de um casal imortal – as fragilidades de um casal qualquer, humano, que se encontra após uma busca e não sabe se conseguirá ficar junto. Esse tipo de desalento a que todos nós estamos sujeitos.
p. 40’’
A narração de ambos os livros é intercalada entre o passado e o presente e nos dois livros, através das cartas que um escrevia ao outro durante a busca, temos insights do que cada um estava fazendo. É claro que quando lemos a história dos dois sabemos mais a fundo o que os personagens estavam fazendo e qual era o conflito interno pelo qual passavam. O mais interessante, de longe, foi ver onde Leah estava realmente depois de ler em que lugar Joaquim achava que ela se encontrava.
Lembro que enquanto lia Joaquim, sentia Leah meio distante e, achava até, que ele a amava mais que ela amava a ele. Quando pude ver a história pelo ponto de vista dela, compreendi-a melhor e tudo se encaixou como um verdadeiro quebra-cabeça.
O livro é muito bem escrito, é impossível não se envolver com a história. Confesso que enrolei para ler porque sabia que assim que eu acabasse a leitura, não haveria mais nada sobre o amor de Joaquim e Leah. Por vezes, reli alguns parágrafos, de tão bem estruturados e montados. Cada palavra estava conectada com outra que a potencializava e deixava-a ainda melhor, o melhor termo para descrevê-lo nesse quesito seria: Poético. Eu saboreei essa leitura.
Outro ponto é o visual. Leah passa por São Francisco na era hippie, Buenos Aires, Nova York durante a luta pelos direitos das mulheres, Rússia durante a época da Revolução Russa, Paris na Belle Époque, Hiroshima na época da bomba atômica e muitas outras cidades. A descrição das cenas é tão perfeita que não é impossível não visualizar os cenários e envolver-se – ainda mais- com a história. Talvez, o fato da autora ser também roteirista de cinema ajuda em sua construção de cenas A história de amor de Leah e Joaquim daria um filmaço!
‘’Todos os meus grandes amores – e, se fosse pensar com calma, todas as paixões meteóricas, os cometas, os astros que não brilharam tanto. As poeiras cósmicas. Por que a verdade é que, vencidas todas as barreiras do amor, há sempre o medo da felicidade e a impossibilidade dos sonhos se concretizarem.
p.40’’
Não é exatamente necessário ler ‘’Livro de Joaquim’’ para ler a história de Leah, mas eu recomendo fortemente que leiam os dois. As historias se encaixam tão perfeitamente que seria um pecado não lê-los. Em um mundo ideal, onde eu tivesse todo o tempo para ler, eu releria Joaquim antes de partir para Leah, mas eu estava curiosa demais para esperar até minhas férias para ler os dois.
‘’Eu não tinha construído nada, todas as perdas haviam me ferido de tal maneira (começando pela perda de Joaquim) que eu jamais conseguira somar. Tudo significava extravio, dano, ruína, subtração. A vida me furtava as pessoas queridas. Os anos me surrupiavam a maturidade e a velhice. Eu tinha a sensação de ser uma arvore muito frondosa, cujos frutos eram sempre arrancados pelos ventos, mas as raízes, fincadas a sete palmos do chão, jamais pereciam.
p.102’’
Recomendo esse livro para todos que gostam de um bom romance, mas sem necessariamente ser meloso ou super dramático. Os amantes de história vão ficar embasbacados com as cenas e com os, acredite em mim, personagens históricos que Leah e Joaquim encontram durante sua trajetória. Aqueles que acreditam em amores impossíveis vão se apaixonar pelo casal. Mas atenção, esse não é livro fantástico (até porque, já deixei claro aqui que não sou muito fã desses), com seres mitológicos e mundos mágicos, é só uma historia de amor que transcende as barreiras do tempo.
‘’E, lá em cima, nos abraçamos em volta daquela rocha com mais de dez milhões de anos. Sim, mais imortal do que nós dois, recheada de sódio, de sílica, de um material vulcânico que outrora explodiu paixão e que agora era apenas sedimento sólido, memória, vida sem vida.
p.42’’
Ainda estamos em abril, mas “Livro de Leah’’ já é um dos melhores – se não o favorito- do ano.
Beijoos, A Garota do Casaco Roxo
PS: Li, reli, escrevi, apaguei, joguei no lixo, rabisquei e risquei de novo essa resenha. Mas cheguei a conclusão de que nunca ela vai ficar digna dessa história, acho que só lendo mesmo para saber. Garanto que você não vai se arrepender.