6 livros para ler em um dia

livros pequenos

Se você é como eu, provavelmente estabeleceu uma meta de leitura ambiciosa no Goodreads. Escolhi ler 60 livros esse ano e amo que a plataforma te mostra o quanto da sua meta já foi cumprida (35%), mas detesto que também mostre se você está atrasada nas leituras – o que significa que você pode não cumprir seu objetivo, se continuar nesse ritmo.

No momento, estou lendo 2 livros diferentes e estou para trás em um título. Jessica Woodbury, do Book Riot, fala exatamente sobre essa nossa obsessão com o Goodreads e as metas de leituras. Basicamente, ela escreve: “Como uma pessoa que realmente não pratica esportes, mas que lê como se minha vida dependesse disso, talvez minha obsessão seja melhor explicada através de metáforas esportivas. O Reading Challenge é meus Jogos Olímpicos. Não ter livros atrasados significa que estou no ritmo certo, estar atrasada significa que minha medalha pode estar fora do meu alcance, é ganhar ou morrer; fazer ou quebrar; é hora de ir com tudo.”

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Eu não estou realmente em uma ressaca literária, mas estou lendo livros que requerem mais minha atenção e que realmente não quero correr para terminar, só para voltar ao ritmo imposto pelo Goodreads. É em momentos como esse que eu recorro aos meus “one-night stands”, hehehe. Eu vou atrás de livros que podem ser lidos em um só dia, além de dar mais caldinho para minha meta de leitura.

Por isso, elaborei uma lista com livros fininhos com menos de 200 páginas e que podem ser lidos rapidamente.

1) O Carteiro e o Poeta, de  Antônio Skármeta – 127 páginas

carteiro e poeta livroDe todos os livros dessa lista, “O Carteiro e o Poeta” é o único que eu já resenhei aqui no blog. Poético e simples, o livro tem um final um pouco denso e segue sendo uma das leituras que mais me marcou na vida.

Sou uma leitora relativamente rápida, isso e o fato de conhecer o enredo por ter visto o filme homônimo de Michael Radford, “Il Postino”, fez com que eu lesse ele bem rápido mesmo. O vocabulário do livro é um pouco avançado – mesmo em português, não são palavras que usamos habitualmente- pode ser que algumas pessoas demorem um pouco mais para terminá-lo.

  1. O Compadre de Ogum, de Jorge Amado – 103 páginas

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Quem sou eu para falar de Jorge Amado, não é mesmo? Mas, decidi incluir “O Compadre de Ogum” nessa lista porque foi uma das melhores, quiçá, minha melhor leitura de 2016.

Escrito em 1964, o livro conta a história de Massu, que é muito popular e amado por todos. Certo dia, a prostituta Benedita aparece muito doente na porta da casa de Massu, com um bebê no colo, o filho do casal.

Com quase 1 aninho de idade, o bebê gorducho e sorridente é entregue à vó de Massu, Veveva e, para o escandâlo da velhinha, a criança ainda não foi batizada na Igreja Católica.

Massu é muito querido por todos seus amigos e, por causa disso, todos querem ser o padrinho do moleque. E é então que o drama começa: Massu não consegue escolher uma única pessoa para ser seu compadre.

“A primeira reação de Massu foi de vaidade satisfeita, todos desejando a honra de chamá-lo de compadre, como se ele fosse político ou comerciante da Cidade Baixa. Por seu gosto convidaria a todos, o menino teria inúmeros padrinhos, os sete presentes e muitos outros, os amigos todos, os do cais, os dos saveiros, os dos mercados, das feiras, das Sete Portas e de Água dos Meninos, das casas de santo e das rodas de capoeira.”

p. 21

Da forma mais brasileira possível, Massu recebe uma visita de Ogum, seu pai de cabeça, que anuncia que ele, o orixá “em pessoa”, será o padrinho da criança.

Para saber como eles vão resolver essa confusão, que mistura religiões e crenças de uma forma deliciosa, só lendo o livro mesmo. Os personagens são todos maravilhosos e realistas, os detalhes muito especiais da organização do batizado do menino também são apresentados e você vai se pegar rindo alto. Super amaria se fizessem um seriado ou uma novela baseados nesse livro (filme eu sei que tem e dá para ver aqui, online)

Envolvente, engraçado e com cheiro de sol e de mar, esse livro tem a pura picardia do malandro. Toda vez que eu penso nele, acabo com um sorriso no rosto, ao lembrar das aventuras misturadas e das vidas contadas, sem preconceitos ou julgamentos.

  1. O Sal da Vida, de Françoise Héritier – 100 páginas

O Sal da Vida

“O Sal da Vida” não deve ser observado como um livro de romance, embora conte uma história. Basicamente, Françoise Héritier lista uma série de experiências, sensações, sentimentos, gostos e desejos, uns seguidos dos outros, de forma a ilustrar aquilo que dá graça à vida, aquilo que nos faz sermos humanos.

“[…] olhar, de cima, um gato que nem desconfia que está sendo observado, rir disfarçadamente, esperar o entardecer, regar as plantas e conversar com elas, apreciar o toque de um couro macio ou de um pêssego ou de um cabelo sedoso, estudar detalhadamente o plano e fundo da Mona Lisa ou as rendas de Van Dyck, ter um sobressalto de prazer ao som de uma voz, partir para uma aventura, ficar na penumbra sem fazer nada, provar com relutância gafanhotos grelhados, desfrutar o prazer das conversas sem fim com velhos amigos […]

p.21

É lindo e super diferente daquilo que estou acostumada a ler. Embora ele possa ser lido rapidamente, é um bom livro para quem está em busca de uma experiência de leitura diferente dos romances padrãozinhos.

Ele também propõe que nós mesmos observemos aquilo que é o sal da nossa vida, ao deixar as últimas páginas livres para serem preenchidas. Confesso que, logo após terminar a leitura, vi a vida com um pouco mais de cor.

  1. Talvez uma história de amor, de Martin Page – 157 páginas

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“Talvez uma História de Amor” é um dos poucos livros que eu não faço ideia de onde veio e de como foi parar na minha estante. Faz sentido se você considerar que o principal tópico do livro é uma possível amnésia.

Virgile é um publicitário de relativo sucesso e bastante anti-social. Seu relacionamentos nunca dão certo e ele sempre acaba levando um pé na bunda das namoradas. Mas, um dia, ele recebe uma ligação, que caí em sua secretária eletrônica. Uma mulher chamada Clara dá o veredito “está tudo acabado entre nós!”. Nada de novo aí. Mas… O problema é que Virgile não se lembra de ter namorado nenhuma mulher com esse nome.

Intrigado, ele tenta descobrir quem é essa Clara e, principalmente, tenta re (ou não, né?) conquistar o coração dela.

Esse livro se passa em Paris e a cidade chega a ser uma protagonista secundária, aparecendo no livro mais até do que Clara. O humor é bem daqueles secos e sarcásticos dos franceses, eu gosto, mas entendo que as doses de auto-depreciação do Virgile possam irritar um pouquinho.

“Ao chegar à estação de Montparnasse, com dezoito anos de idade, Virgile decidira que Paris seria o objeto do seu amor, pois era preciso, de alguma forma, dirigir seu amor para alguma coisa. Paris nunca o abandonaria. Paris estava ali sempre que precisava. Paris não exigia sair de férias para alguma ilha paradisíaca, com praias nojentas cheias de óleo e cremes e sol. Paris não estava nem aí se ele ficava sem lavar a louça uma semana, se não fazia barba ou se se vestia mal. Paris o amava.”

p. 67

O que mais me chocou, até agora, foi descobrir que “Talvez uma História de Amor” vai virar filme aqui no Brasil!!!!! Não é uma loucura? Será essa a comédia romântica que eu tanto ando querendo ver? O filme é estrelado por Matheus Solano (!), Thaila Ayala e Dani Calabresa (!!) e dirigido por Rodrigo Bernardo. A previsão de estréia é 07.dez.2017, segundo o Amo Cinema.

  1. O Menino do Pijama Listrado, de John Boyne – 186 páginas

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Todo mundo conhece bem a história de “O Menino do Pijama Listrado”, que foi adaptado para os cinemas em 2008, pelo diretor Mark Herman. Filme esse que, depois do soco no estômago que foi o livro, nunca consegui criar coragem para ler.

Se você não viveu debaixo de uma pedra nos últimos anos, sabe que o livro conta um pouco da história do Holocausto e dos horrores do Nazismo, do ponto de vista de uma criança, protegida por sua inocência.

Sempre que alguém precisava de alguma coisa, Pavel trazia o que quer que fosse imediatamente, mas quanto mais Bruno o observava, mais certo ficava de que uma catástrofe estava prestes a acontecer. Ele parecia menor a cada semana que passava, se é que isso era possível, e a cor que deveria estar corando suas faces havia se esgotado quase por completo. Os olhos pareciam pesados de lágrimas, e Bruno pensou que uma piscada mais demorada poderia desencadear uma verdadeira torrente delas.”

p. 126

Bruno, filho do comandante de um dos campos de concentração nazista, se torna amigo de Shmuel, uma das crianças judias presas no campo. Através da cerca elétrica que protege os limites do campo de concentração, os dois conversam e a história parte dessa premissa.

Curtinho e simples, na realidade, é um livro infanto-juvenil. Dá para ler “O Menino do Pijama Listrado” em uma sentada só. Ainda mais se você quiser saber o final desesperadamente.

O que poucas pessoas sabem é que John Boyne, o autor, escreveu a história inteirinha em dois dias e meio, sem quase dormir. Ele conta tudo em uma entrevista nesse site,[…] eu só continuei escrevendo até chegar no final. A história veio até mim, eu não sei de onde ela saiu. Enquanto eu escrevia, eu só pensava ´continue e não pense muito nisso´. Com meus outros livros, eu tive que planejar todos eles. Eu penso por meses antes de escrever qualquer coisa. Mas, com esse, na terça-feira a noite eu tive a idéia. Na quarta de manhã eu comecei a escrever e, na sexta-feira, na hora do almoço, eu já tinha o primeiro rascunho.”

Para ser justa, na mesma entrevista Boyne diz que depois desse primeiro rascunho, ele reescreveu o livro umas outras 8 vezes, até chegar no livro final.  A entrevista é ótima, também, para quem quer ser um escritor e precisa de um encorajamento. Se Boyne penou no começo de sua carreira e tinha que ter um emprego para poder se sustentar, imagina nós, pobres aspirantes?

 

  1. O Outro, de Bernhard Schlink – 95 páginas

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Confesso que só comprei esse livro, porque na capa diz que ele deu origem a um filme estrelado por Liam Neeson e Antônio Banderas. Como eu gosto de ambos os atores, decidi dar uma chance.

Basicamente, ele conta a história de Bengt, que perdeu a esposa para um câncer. Depois de uma vida inteira de casados e de se aposentar, Bengt não tem muito o que fazer e se concentra nas tarefas de casa para o tempo passar mais rápido (que tédio, né, gente?).

Certo dia, Bengt recebe uma carta de um remetente desconhecido, mas que foi endereçada à sua esposa. Com a mulher morta e longe de poder ler o conteúdo da carta, Bengt a abre e o que encontra o deixa de cabelos em pé. De um tal de Rolf, a carta revela um antigo affair de sua companheira.

Decidido a descobrir todas as mentiras que sua esposa manteve, ele começa a trocar correspondências como o “Outro”, como se fosse a falecida.

Sinceramente, eu esperava mais desse livro. Imaginando Liam Neeson no papel de Bengt e Antonio Banderas no papel de Rolf, eu esperava que rolasse alguma luta corporal ou até uns assassinatos básicos. Mas, os grandes acontecimentos deste livro acontecem quase todos no âmbito psicológico. As 95 páginas podem ser lidas em menos de um dia com facilidade. O trailer do filme pode ser visto aqui:

Gostou e quer mais dicas de livros para “ler em uma sentada”? A Larissa Siriani tem um vídeo no canal dela só falando sobre isso!

Beeijos, A Garota do Casaco Roxo

Le Petit Nicolas – Sempé-Goscinny

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Nome: Le Petit Nicolas

Autores: Jean-Jacques Sempé e René Goscinny

Editora: Denöel

Páginas: 160

Idioma: Francês

Não, querido leitor, eu não sumi da face da Terra e parei de postar no blog sem nenhum aviso. A verdade é que chegou aquela época de maldade do semestre, onde a quantidade de coisas para fazer relacionadas a faculdade aumenta e onde o volume de trabalho dobra. Não tem erro, é sempre assim. Desculpa aê!

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Dito isso, também aviso que o post de hoje, apesar de parecer, não é uma resenha daquelas de sempre, é uma dica para quem, como eu, está aprendendo francês!

Le Petit Nicolas é uma série de livrinhos de 14 volumes, publicados nos anos 60. As histórias contam um pouco da vida de Nicolas, um menininho francês e seus amigos, Alceste, Clotaire, Eudes, Joachim, Geoffroy, Agnan e Rufus.

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Quando comecei a estudar inglês, meu professor sempre trazia livrinhos infantis e incentivava que nós lêssemos muito. Rolava nota para quem fizesse teatrinhos e eu achava tudo muito estressante na época.

O que eu percebi depois de começar com o francês é que eu tenho ótimas habilidades de escuta e isso ajuda muito na hora de aprender uma nova língua. É bem fácil falar e entender o que estão falando para mim, mas a figura muda na hora de escrever. O francês é uma língua bem traiçoeira porque muitas palavras não parecem muito com a versão escrita delas e outras são grafadas de maneira diferente, mas pronunciadas da mesma forma. Um pesadelo pra moi.

A solução que encontrei é a mesma que encontrei para aprender a escrever melhor: LEITURA!

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Zapeando pelo Netflix encontrei um filme chamado O Pequeno Nicolau. Nele, Nicolau, uma criança de 9 anos, se convence de que seus pais vão ter um novo filho e que, com a chegada da criança, ele será abandonado na floresta, para ser devorado por ursos. Nicolau, então, reúne seus amigos e passa por uma série de aventuras, desde contratar um ladrão para sequestrar sua irmã que ainda nem nasceu, até comprar flores para sua mãe e destruir a casa da família acidentalmente. 

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O filme é uma gracinha, doce e fofo, como se estivéssemos vendo o equivalente francês do Menino Maluquinho ou do Pedrinho, de O Sítio do Pica-Pau Amarelo. Uma pena que o filme foi removido do catálogo da Netflix, porque até continuação ele teve (e eu ainda nem vi).

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A curiosidade falou alto e, ao pesquisar, sobre o filme, encontrei a série de livros.

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Os livros são divididos em capítulos ultra curtinhos, com poucas páginas. O vocabulário é bem fácil e infantil e as frases são construídas da forma como uma criança falaria mesmo. É um pouco traiçoeiro porque, se a gente escreve frases dessa forma, vai parecer que somos crianças, mas, como o objetivo é só praticar a leitura, a coisa funciona. As ilustrações são fofas e, em alguns momentos, quando eu não compreendia uma palavra ou a situação, elas ajudavam a me situar, sem que eu tivesse que recorrer a traduções.

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Nicolau passa por várias aventuras, como a vez em que ele fumou um cigarro de verdade e não um de chocolate, a vez em que seus amigos foram brincar no terreno baldio, as bagunças no intervalo da escola e a zoeira com o inspetor, a vez em que eles ensaiaram a Marseillesa, para cantar pro Primeiro Ministro na escola e acabaram sendo fechados no porão e os jogos de cowboy seguidos de coups sur le nez.

As histórias também são super legais e é uma leitura rápida, sem grandes atropelos. Até o momento eu li “Le Petit Nicolas” e “Le Petit Nicolas et les copains” e teria lido muitos outros, se os livros não custassem um rim, no estande da Livraria Francesa da Bienal, e se não fosse tão difícil encontrar eles na Livraria Cultura da Paulista.

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No fim, recomendo para qualquer um que quer dar uma treinada na leitura em francês e se divertir um pouco com as aventuras das crianças.

Trailer do filme legendado em português:

Beijoos, A Garota do Casaco Roxo

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Como Água para Chocolate – Laura Esquivel

imageNome: Como Água para Chocolate 

Autora: Laura Esquivel

Editora: Martins Fontes

Páginas: 205

Eu gosto de livros que invadem os meus sentidos e os meus sentimentos. Gosto de livros que me envolvam de tal forma que, se alguém me chamar ou me interromper durante a leitura, eu vou me assustar ao perceber que não estou dentro da história. Gosto de livros que me deixam com fome, que me encantam com os cheiros, com os aromas e com os gostos e “Como Água para Chocolate” é um desses livros.

Tita é apaixonada por Pedro desde criança, mas, em sua família, existe uma lenda, uma tradição que diz que a filha mais nova deve permanecer solteira, para cuidar da mãe quando ela ficar velhinha. Por isso, quando Pedro decide pedir Tita em casamento para a matriarca da família, ela recusa e oferece a Pedro sua outra filha, Rosaura. Em um ato que geraria vários “???”se fosse realizado nesse século, Pedro aceita, com a desculpa de que se casar com Rosaura é a única forma de ficar próximo de sua verdadeira amada.

Tita nasceu em uma cozinha e é lá que ela passa boa parte de seus dias, cozinhando para agradar a mãe e é através da comida de Tita que ela se comunica com Pedro, já que Rosaura, sua irmã, morre de ciúmes dos dois. Em ocasiões, aqueles que comem sua comida sentem muita vontade de chorar, outras vezes eles sentem vontade de fazer coisas picantes, tudo pelo tempero de Tita.

O livro segue contando a história desse amor impossível e com aquela mágica e aqueles toques de surrealismo que só os autores latino americanos tem. É uma história fascinante, ainda que um pouco triste.

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O filme baseado no livro foi produzido no México e lançado ao público em 1992. Também é muito bom, mas além da história maravilhosa, o que me encanta em “Como Água para Chocolate” são as descrições e estas, infelizmente, não permanecem tão poéticas no filme.

Recomendo para quem quiser sair da rotina de leitura de livros de autores americanos e quer uma coisa mais “caliente”, com uma leitura rápida, mas recheada de amor, sedução e tempero. Definitivamente, um dos meus livros favoritos.

Beijoos, A Garota do Casaco Roxo

Cadê Você, Bernadette? – Maria Semple

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Nome: Cadê Você, Bernadette?

Autora: Maria Semple

Editora: Companhia das Letras

Páginas: 376

Bee é uma menina brilhante, tão brilhante que os pais decidem dar um presente a ela, agora que vai para o ensino médio e Bee só tem um pedido a fazer: se ela tirar nota máxima em todas as matérias de seu boletim, ela quer ganhar uma viagem em família para a Antártica. Mas sua mãe, Bernadette, tem um pouco de agorafobia e o medo de fazer simples tarefas como ir as compras faz com que ela contrate uma assistente pessoal online, direto da India, que a ajuda com coisas como “comprar comida”. O pai de Bee é um genial guru da Microsoft, que tem sérios problemas no relacionamento com a esposa e é bem ausente. Quando Bernadette misteriosamente desaparece, cabe a Bee montar um verdadeiro mapa do tesouro para encontrar e entender sua mãe.

Esse livro é construído de uma forma quase epistolar, mas a verdadeira questão é que ele não só é construído com cartas e emails, mas também com artigos de jornal, trechos de escuta telefônica, recibos de pagamento e trechos de investigações do FBI.

É fascinante porque tudo que sabemos é que Bernadette é meio doida e, aos poucos, Bee vai desenterrando o passado dela, mostrando os acontecimentos e traumas pelos quais ela passou, que a fizeram ser como ela é hoje. É bonito ver a forma como a autora teceu toda a história, que vai se revelando aos poucos, as vezes parcialmente e as vezes na integra de uma vez só. Consigo até visualizar Maria Semple com várias planilhas decidindo os passados e o futuro dos personagens. Este não foi um livro que foi “se escrevendo” e que durante o processo de escrita já estava muito bem planejado, com certeza.

Outra coisa que me fez amar esse livro foram as várias menções a Phillips Exeter Academy, uma das melhores escolas preparatórias (é tipo o ensino médio, mas é bem puxado e você tem que morar no campus, quase como uma faculdade mesmo) dos EUA, onde o Mark Zuckerberg e o Dan Brown estudaram e onde eu fiz um curso de verão (hohoho!). Bee, além de ter que lidar com a ausência, de diferentes formas, dos dois pais, ainda tem que escolher o que vai fazer da vida, tadinha!

Se você está procurando um livro inovador e sem clichês e mimimis, “Cadê Você, Bernadette?” vai te intrigar, divertir e te matar de curiosidade.

Beijoos, A Garota do Casaco Roxo

Girl With a Pearl Earring – Tracy Chevalier

girl_with_a_pearl_earringNome: Girl With a Pearl Earring

Autora:Tracy Chevalier

Editora: Plume/Penguin

Idioma: Inglês (Se você não lê em inglês, ‘’Moça com Brinco de Pérola’’ foi lançado aqui no Brasil pela editora Bertrand Brasil. Infelizmente, na maioria dos sites ele não está disponível.).

Páginas: 233

Preço: R$ 42, 30

Holanda, 1665.  A família de Griet enfrenta sérias dificuldades financeiras desde que o pai, que trabalhava como pintor de azulejos, perde a visão em um acidente de trabalho. Para ajudar no sustento de sua mãe, sua irmã e de seu irmão, que estuda o mesmo oficio do pai em uma fábrica longe de casa, Griet começa a trabalhar como empregada doméstica na casa dos Vermeer.

Lavando a roupa de quase 10 pessoas e tendo que conviver com o olhar esnobe de sua patroa, Catharina, Griet se sente cada vez mais cansada e aborrecida. Maria Thins, mãe da dona da casa – e a pessoa que verdadeiramente cuida do lar, já que Catharina não gosta muito de fazer as tarefas domésticas e está grávida de seu 9º filho-, é a única que a compreende e, quando percebe o cuidado com a limpeza da menina, lhe dá a tarefa de limpar o estúdio do célebre pintor Johannes Vermeer, sabendo que ela terá que deixar tudo exatamente no mesmo lugar.

Vermeer, por sua vez, começa a se interessar cada vez mais pela menina e começa a instruí-la para tornar-se sua ajudante, deixando Catharina muito, muito irritada. Até que um dia, depois de uma promessa a um mercador de artes, Vermeer começa a pintar Griet e a imortalizá-la como um dos quadros com olhar mais marcante já visto.

‘’The baker’s daughter stands in a bright corner by a window’’, I began patiently. ‘’She is facing us, but is looking out the window down to her right. She is wearing a yellow and black fitted bodice of silk and velvet, a dark blue skirt, and a white cap that hangs down in two points below her chin.’’

‘’As you wear yours?’’ My father asked. He had never asked this before. Though I had described the cap the same way each time.

‘’Yes, like mine. When you look at the cap long enough,’’ I added hurriedly, ‘’you see that he has not really painted it white, but blue, and violet, and yellow.

‘’But it’s a white cap, you said.’’

‘’Yes, that’s what is so strange. It’s painted many colors, but when you look at it, you think it’s white’’

p. 104’’

‘’Girl With a Pearl Earring’’ foi uma leitura diferente e, de certa forma, enigmática. Apesar de estar em inglês, li ele em praticamente dois dias e me senti envolvida pela atmosfera fria, mas calorosa ao mesmo tempo da narrativa. As descrições são realmente incríveis e você até estranha olhar pela janela e não ver os canais holandeses e as ruas de paralelepípedo.

Percebemos durante a leitura que Griet é um personagem com muita profundidade, ela não é só aquela que aceita tudo o que os seus chefes mandam e, até mesmo, as cantadas do filho do açougueiro, ela tem suas crenças pessoais e ultrapassa a maioria ao simplesmente aceitar ajudar Vermeer. As coisas ficam ainda mais confusas quando ela aceita posar para o pintor. Ele a fascina, a interessa e faz com que ela se sinta especial – e esse sentimento, pelo que parece, já que vemos tudo pelo ponto de vista dela, é recíproco-. Mas ela sabe que se ficar junto com ele, estará arruinada para sempre.

É impossível não querer um final feliz, ou que Griet não faça nenhuma besteira. É impossível gostar da Catharina e quanto mais sabe-se sobre ela (Griet é uma empregada discreta então só descobrimos a resposta para alguns comportamentos durante a narrativa) mais a desprezamos e Maria Thins é outro personagem enigmático, daqueles que você odeia as atitudes, mas acaba compreendendo o porquê delas.

Quanto ao nível de inglês, recomendo o intermediário. Ele é fácil de acompanhar (tanto que eu o li rapidamente, um recorde), mas ao mesmo tempo possui passagens e expressões que podem tornar a leitura chata para quem ainda não tem certa fluência.

‘’Girl With a Pearl Earring’’ virou filme em 2003 com Scarlet Johanssen e Colin Firth. Eu, infelizmente, ainda não tive a oportunidade de vê-lo, mas espero que tenham mantido certa fidelidade a história. O final e como tudo se desenrolou só tornam o livro ainda mais especial. Se estiver procurando por um conto de fadas cheio de borboletas e flores, este não é um livro para você.

Acho que por misturar a realidade e a ficção e por ter uma narrativa diferente das que eu normalmente leio (Ele me lembrou ‘’Chocolat’’, de certa forma), ‘’Girl With a Pearl Earring’’ entra na minha lista de leituras favoritas do ano. Recomendo.

Trailer do filme:

Beeijos, A Garota do Casaco Roxo