Mal digitei o título e já consigo sentir o número de visualizações no meu blog diminuindo. Acredito que a maioria dos meus leitores, assim como eu, não curtam muito química, matemática ou física. Para ser sincera, eu também não sou muito chegada não. Mas por que, oh-toda-poderosa-Amanda, você está escrevendo um texto sobre “livros para gostar de química”?
Porque, apesar de não saber como balancear equações direito e de ter um passado traumático com ligações covalentes, eu gosto muito de entender como as coisas funcionam. É muito mais fácil amar e respeitar a maravilha que é meu corpo sabendo a dificuldade que é manter meu tico-e-teco funcionando direitinho. É incrível descobrir que a ilha de Nova York só se chama Nova ~York~ porque foi negociada pelos Holandeses e Ingleses, em troca de uma ilha no pacífico que produzia noz moscada. E é bem legal saber como os venenos eram descobertos pela perícia criminal nos anos 20.
A lista que eu elaborei aborda a química de uma maneira diferente. Ela não vai falar sobre a melhor forma de usar a estequiometria ou te ensinar o que são móleculas aromáticas. Essa lista mostra livros que tem como objetivo ajudar as pessoas a visualizar melhor o impacto e a importância da química na vida e na história do mundo. Confesso que, depois de ler, eu até senti vontade de refazer algumas listas de exercício. Depois eu caí em mim e aí voltei para minha realidade.
1. A Colher que Desaparece, de Sam Kean
“A Colher que Desaparece” é um livro para quem, como eu, nunca entendeu muito bem a organização da tabela periódica. Ele orienta o leitor sobre a formação da tabela periódica e de como a IUPAC (Associação Internacional da Química, algo do tipo) decidiu organizar ela do jeito que a conhecemos hoje.
O livro conta o processo de descoberta, quem descobriu e até os bastidores das relações pessoais dos cientistas que descobriram elementos químicos no século passado. Através de anedotas, a gente acaba descobrindo histórias engraçadas dos cientistas que faliram tentando obter alguns miligramas de tálio ou de cientistas que nomearam os elementos químicos que descobriram com seus próprios nomes ou com os nomes das universidades em que estudaram.
Alguns trechos tem fatos demais e eu fiquei um pouco perdida, confesso. Em outros, parecia um pouco livro didático demais, sabe? E em outros trechos faltou um pouco de clareza (frases longas demais, gente, longas demais). Mas, como eu estava lendo só por diversão, isso não foi exatamente um problema.
Talvez, daqui a dois anos eu já não me lembre mais nada sobre os detalhes dos elementos químicos que foram apresentados nesse livro, mas a visão que eu tinha anteriormente da tabela periódica sendo algo chato, irritante e desinteressante, foi embora para sempre.
2. Os Botões de Napoleão, de Penny Le Couteur
Provavelmente, “Os Botões de Napoleão” é meu livro favorito dessa lista toda. Por que? Porque ele une química e ~história~.
O livro começa dizendo que a culpa pela derrota de Napoleão naquela incursão à Rússia que ele fez em 1812 seria toda dos casacos dos soldados. Por que? Os botões desses casacos eram feitos de latão e o latão, quando exposto a temperaturas muito baixas começa a esfarelar, esfarelar, até não ficar mais firme. Isso fazia com que os casacos permanecessem abertos e os soldados tivessem que 1. Segurar os casacos para não morrer de frio e 2. Manter suas mãos em um lugar que não fosse suas armas, ficando com a guarda abaixada.
É nessa linha de pensamento que o livro vai pegando 17 moléculas como o sal, a pílula anticoncepcional, o chocolate, a noz moscada, os explosivos, a borracha e vai traçando e explicando porque eles funcionam da forma como funcionam e que impacto que eles tiveram da nossa história.
O capítulo da borracha foi meu favorito da história toda. Bem didático, ele explicou o processo de vulcanização, descoberto por Charles Goodyear (sim, dos pneus), para depois vir ao Brasil e explicar sobre como o Amazonas ficou muito rico com a exploração da borracha, como e porquê compramos o Acre e até como o declínio da exploração do látex – a matéria prima da borracha- aconteceu.
Qualquer um que queira entender como os elementos químicos influenciaram o curso da história vai adorar esse livro. Eu queria muito que, ao invés de abordar só 17, a autora tivesse falando sobre umas 50 moléculas. Eu ficaria bem entretida na leitura.
3. The Poisoner´s Handbook, de Deborah Blum
Eu também gostei muito desse porque ele envolve química, história, ciências forenses e investigações criminais. O único defeito é que eu li ele em inglês e acabei perdendo algumas coisinhas aqui e lá por causa da barreira da língua.
Nele, a gente acompanha a cidade de Nova York nos anos 20, na chamada “Era do Jazz”, quando as taxas de crime eram muito altas e as técnicas de investigação ainda eram na base de “dá uma perguntada por aí”. A história acompanha o médico legista Charles Norris e o toxicologista Alexander Getler, em suas tentativas de utilizar técnicas científicas da química para resolver crimes. Eles são uma espécie de “pais” de programas de TV como CSI e inspiraram – com certeza- o personagem Gil Grissom.
O livro é de não-ficção e muito bem escrito. Você acaba se envolvendo na história e nem percebe que está lendo fatos e não vendo um filme noir bem interessante. As descrições da Nova York do começo do século passado, que nada lembra a Nova York de hoje, são incríveis e acho que qualquer pessoa que goste da cidade vai ter uma visão melhor da evolução da metrópole se ler esse livro – mesmo que ele fale majoritariamente de química.
Nós acompanhamos Norris e Getler em sua investigação de uma família que ficou careca repentinamente, de trabalhadores de fábrica que tinham ossos tão fracos que o mero ato de andar causava quebras e um restaurante que servia tortas envenenadas. O livro também conta as dificuldades do trabalho dos dois e como eles tinham que lutar contra orçamentos apertados e a falta de profissionais qualificados.
Dividido em capítulos, o livro utiliza Norris e Getler e crimes reais – resolvidos ou não resolvidos- para explicar como funcionam o clorofórmio, o arsênico, o Mércurio, o monóxido de carbono, o rádio (que era usado como um remédio antigamente) e outros compostos.
O livro também tem trechos doidos sobre como a “Era da Proibição” (onde o presidente dos EUA decretou que era proibido vender e produzir bebidas alcoólicas) causou uma série de cegueiras e mortes por envenenamento de pessoas que queriam produzir ilegalmente seu estoque secreto de mé e que acabaram realizando procedimentos de forma incorreta. Sério, foi algo bem estúpido e, na época, as pessoas bebiam qualquer coisa só para ficar alegrinhas.
A única coisa chata é que ele não está disponível em português.
Tenho um amigo que diz que a gente nunca deve dormir sem aprender duas ou três coisas mais e acho que essa é uma filosofia importante. Eu espero que esses livros te ajudem a aprender duas ou três coisas extras sobre química, história, ciências forenses, astronomia, física e até culinária.
Beeijos, A Garota do Casaco Roxo