Livrarias legais para conhecer em Montevidéu

Conheço poucas livrarias legais aqui em São Paulo. Tem a Livraria Cultura, claro; as unidades da Livraria da Vila, cada uma com seu charme próprio e as Saraivas e Nobels da vida. Fora isso, nada. Não conheço livrarias pequenas, independentes e com seu catálogo próprio, selecionado. Não conheço redutos de leitores e lugares especiais – e preciso trabalhar nisso!

Talvez, por esse motivo, eu tenha ficado tão impressionada com as livrarias que encontrei no Uruguai. Com pouquíssimas redes, cada lugar que visitei tinha seu charme especial. Você sentia, realmente, que estava em um reduto, em um palácio de livros.

Líbreria Más Puro Verso

Peatonal Sarandí 675

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A Más Puro Verso é uma das mais conhecidas de Montevidéu. Ela tem outras 3 unidades, mas a que conheci fica na Peatonal Sarandí, logo atrás da Plaza Independencia.

Eu sabia que a livraria ficava em algum lugar por ali e, como tinha ido almoçar no Cabildo, estava de olho nas lojas, para ver se a encontrava. E, olha, quase a perdi. A entrada é super discreta e, com o movimento da hora do almoço da Peatonal, aliado com os artesãos e artistas de rua (eu tenho horror a estátuas vivas e era o que mais tinha por lá, cruzes!),  ficou impossível. Quando você for, fique de olho!

De acordo com informações da internet, o edifício onde a livraria está localizada, o Pablo Ferrando, foi construído em estilo art noveau, em 1917 e é uma criação do arquiteto italiano Leopoldo Tosi. O objetivo era que a loja funcionasse como um ponto de venda de artigos ópticos e equipamentos de precisão.

As escadarias são o ponto alto do prédio e eu recomendo que vocês as suba! No piso superior há um restaurante e café com umas janelas de vidro enormes, com vista direta para o pessoal passando na Peatonal. Acabei não comendo nada por lá porque tinha me entupido de chivitos e papas fritas e não tinha espaço nenhum na  minha barriga.

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Vista do topo da escadaria

Uma curiosidade: Como a vi nos últimos dias de minha viagem, acabei decidindo comprar um livro do Mario Benedetti por lá. Procurei em todas as mesas, bancas e prateleiras e até subi nas escadas laterais para ver se enxergava eles. Sem efeito. Desisti e perguntei a um vendedor que me informou que os livros do escritor uruguaio ficavam sempre atrás do caixa. Por que? Aparentemente, eles eram roubados tão frequentemente que decidiram mudar o esquema.

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Detalhe dos vitrais! A foto ficou tremida porque eu não tenho uma mão firme e o zoom da minha câmera é um fresco!

Libreria Yenny

Boulevard España y Rambla Rep. de Perú

Confesso: Eu não fui na Yenny atrás de livros coisa nenhuma. Eu tinha lido na internet que lá tinha uma torta de alfajor deliciosa e queria conhecer o lugar. Eu fiquei em uma casa em Pocitos e, logo no primeiro dia, eu e minha tia decidimos ir caminhando pela Rambla de Montevidéu, curtindo a praia e observando as pessoas. Quando percebi que estava mais ou menos perto da Yenny, comentei sobre essa livraria com a minha tia e usei o que restava do meu roaming para pesquisar o endereço exato.

Em uma virada noveleira, minha tia se deu conta de que é na Yenny que trabalha uma das amigas dela, Gabriela. Um motivo mais que especial para continuarmos nossa caminhada pela Rambla! (no final, depois do tanto de doce que eu comi, eu fiz minha tia caminhar até a Playa Ramirez. Do ponto de onde saímos, até Ramírez, são quase 10km. Devo ter gasto umas 200 calorias nessa brincadeira…)

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Titia e Gabriela, nas mesinhas do lado de fora da Yenny! O teto e as paredes são de vidro e tem ar condicionado. É bem agradável!

Entre os livros, Gabriela e a torta de alfajor mais sensacional, mais doce, mais seduzente e mais calórica que eu já comi em minha vida, acabei esquecendo de tirar fotos. Foi mal.

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Torta de Alfajor da Yenny: Se esse não é o bebê mais lindo de toda a história da humanidade, eu não sei qual é.

A confeitaria onde Gabriela trabalha, que fica no mesmo espaço da livraria, chama-se Oro del Rhin. Há outras unidades espalhadas em Montevidéu, mas eu não cheguei a entrar e perguntar se por lá também tinha torta de alfajor. O grande barato mesmo é pegar um livro, sentar em uma das mesinhas do lado de fora, com vista pro mar, enquanto se saboreia a torta de alfajor.

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Para o meu mérito, eu não consegui devorar tudo! Um pedaço só dessa torta de Alfajor é o suficiente para duas pessoas. Da minha metade, eu acabei embalando e levando o resto… E comendo de café da manhã no dia seguinte! :X

Há um espaço nos fundos com mais e mais livros. Gabriela me contou que a Yenny também empresta os livros – desde que você não os estrague, nem os leve para casa-, então você pode ler sem desembolsar muito.

Aliás, uma coisa que eu reparei e fiquei surpresa: O preço dos livros no Uruguai. É bem caro e bem acima da média dos preços daqui. Todos os livros que eu peguei eram de R$ 40 para cima e é bem difícil encontrar livros de bolso ou em promoção nas lojas de lá. Pode ser que eu tenha procurado nos lugares errados, mas acredito que comprar livros no Uruguai só vale a pena se você não conseguiu encontrar nada por aqui.

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Pensando nele… O Culote!!!

Babilônia Libros

Tristán Narvaja 1591, quase Mercedes

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Conheci essa aqui graças a uma foto compartilhada no Instagram pela Leila Rego. Eu fui nela no mesmo dia em que visitei a Fundação Mario Benedetti e caminhei de lá até a livraria (eu andei muito no Uruguai, usando o Google Maps). Não levou nem 15 minutos minutos da Fundação até a Calle Tristán Narvaja, que também abriga a famosa feira de antiguidades, aos domingos.

A rua é cheia de sebos e lojinhas de antiguidade e é uma graça. Há banquinhas com vendedores de livros na rua também. Eu queria entrar em todos e tirar fotos de tudo, mas já estava atrasada para encontrar uns amigos e morta de fome.

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A Babilônia é linda e é super diferente. A livraria tem plantas trepadeiras por todo lado e você fica com a impressão de que entra num mundo mágico.

A única coisa chata é o atendimento. O vendedor estava ouvindo algum tipo de podcast em alemão e mal prestou atenção em mim. Eu queria muito um livro que contasse toda a história de Montevidéu e, quando pedi, ele levantou, atravessou algumas prateleiras e jogou o livro na minha mão, para depois voltar a ouvir seu podcast.

O livro era o “Boulevard Sarandí” e eu fiquei bem interessada nele, mas… A edição em minhas mãos tinha marcas de água e sujeira e, dentro, alguns papéis aleatórios funcionando como marca páginas, um deles era um convite de casamento (de 2008!!! Será que o casal ainda está junto???). Tudo isso pela bagatela de $590. Nops. R$ 60 eu só pago em livro novo mesmo. Fica para uma próxima.

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Talvez o vendedor só estivesse cansado dos turistas que vão lá, porque a Babilônia já virou quase um ponto turístico. De qualquer forma, vale a visita.

Moebius Libros – A minha favorita

Perez Castellano 1432

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Certo dia, minha tia e eu pegamos o Bus Turístico de Montevidéu, que percorre toda a cidade e te dá uns fones de ouvido para acompanhar algumas explicações. Eu achei o preço da entrada meio salgado, mas valeu a pena, de certa forma. Minha recomendação: Venta muito, muito, muito em Montevidéu. Isso normalmente. Com aviso de ciclone, como nós tínhamos, e sentadas no andar de cima do Bus Turístico, eu quase morri congelada. Tipo assim:

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Nós o pegamos na Parada 9, em Pocitos, e tivemos que descer no Mercado del Puerto, a parada 0. Uma baita de uma estratégia de marketing, já que nem eu nem minha tia tínhamos a intenção de comer ou comprar e acabamos fazendo os dois. E depois de fazer tudo isso, lógico, perdemos o horário do ônibus, que passa de meia em meia hora. Decidimos subir a rua lateral ao Mercado del Puerto e tentar pegar o bus ali na Plaza Independenzia.

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A Péres Castellano é uma rua peatonal, ou seja, só de pedestres. Caminhando pela rua, logo nós vemos algo de diferente…

E foi nessa ruazinha que encontramos a Moebius.

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Nova modalidade: Agachamento Literário! Conseguem ver o livro sobre como plantar maconha ali na frente?

Charmosa, pequena, muito desorganizada e com surpresas e deleites para os olhos em cada prateleira, a Moebius não é uma livraria, é uma experiência. Eles vendem livros usados e novos e não tinham nenhum dos 5 títulos que eu perguntei sobre (como o vendedor sabia o que tinha e o que não tinha de cabeça, sem verificar nada, eu não sei, mas ele sabia).

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Eu fiquei uma boa meia hora por lá, só explorando e apreciando e acabei perdendo o segundo bus turístico. Ops. Valeu a pena, de qualquer forma. Acabou virando meu lugar favorito. Sem o charme da Más Puro Verso, nem a extravagância da Babilônia e as distrações da Yenny, consegui curtir bastante o lugar e me arrependo muito de não ter comprado a estátua do Mujica com o termo y el mate debaixo do braço e a cachorra sentada a seus pés – se é que ela estava a venda, não?

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A escultura é tão perfeitinha que a cachorra de Mujica, Manuela, também tem 3 patas.

Bônus, que não é Livraria  – Café Brasileiro

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Já que a gente já tinha perdido o ônibus mesmo, acabamos caminhando por toda a Ciudad Vieja (é melhor não fazer isso de noite, viu gente?). Passeamos pela Plaza Zabala e pelo Museu Romântico (um museu que guarda móveis e miudezas de pessoas ricas da antiga Montevidéu. Ele está situado em uma casa de 1810, que pertencia a um comerciante e tem muitas, muitas coisas bonitas e objetos que pertenceram a presidentes uruguaios e tudo mais. Ao mesmo tempo, ele é bem vazio e tem uma vibe esquisita. As únicas pessoas por lá eram eu e minha tia e as moças responsáveis por nos guiar agradeceram a visita dizendo que morreriam de tédio se nós não estivéssemos lá).

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Vai dizer que não tem uma vibe meio esquisita, gente?

Quando eu saí de lá, segui caminhando e, quando percebi, estava quase na esquina do Café Brasileiro. Mario Benedetti e Eduardo Galeano frequentavam o café com frequência e costumavam sentar nas janelas, para observar as pessoas. O café também foi frequentado por muitos outros intelectuais e artistas uruguaios e está lá desde 1877!!!

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Recentemente, terminei minha leitura de “A Trégua” e o número de vezes que Martín Santomé, o personagem principal, vai a cafés para tomar cortados (café com leite) e media lunas (como um croissant, que pode ser recheado com jámon y queso ou só manteiga #quero) é impressionante. Na verdade, ele e a mocinha, Laura Avellaneda, têm seu primeiro encontro fora do escritório, em alguns dos cafés de Montevidéu.  Martín também escreve muitos sobre como seria um bom garçom e reflete sobre as personalidades dos frequentadores. As cenas que li ganharam muito mais vida depois que conheci o Café Brasileiro, mas aquele final… Nunca vou perdoá-lo.

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A decoração tem fotos, artigos de jornal e miudezas que ajudam a relembrar e a traçar um pouco da história longeva do lugar. Há um café especial chamado Galeano, que vem com amaretto, chocolate e dulche de leche e foi uma das coisas mais deliciosas que tomei durante a viagem. Foi nomeado em homenagem ao Galeano, porque era assim que ele costumava tomar seu café desse jeitinho.

Peguei esse com uma fatia de torta de chocolate branco e blueberry e meu estômago estava no paraíso. Eu quase me esqueci de tirar foto porque já fui comendo direto.

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Um “Café Galeano”, do jeitinho que o escritor tomava e um cheesecake de chocolate branco com cobertura de frutas vermelhas

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Havia um homem sentado no lugar do Benedetti e, quando ele finalmente saiu, eu pude tirar uma fotinha de recuerdo. Agora, resta esperar que os mesmos deuses que inspiraram e abençoaram Benedetti, me abençoem também.

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Beeijos, A Garota do Casaco Roxo